Sempre ensinam na escola sobre a Revolução de 30 que colocou Vargas no poder e supostamente 'salvou o Brasil das oligarquias', mas pouco se fala da revolução para tentar tirá-lo do poder que hoje completa 92 anos e é considerado feriado em São P
Você provavelmente sabe do contexto das primeiras décadas do século 20 no Brasil, que tinha uma república estabelecida recentemente e que era dominada pelas elites agropecuárias da época. As duas maiores eram as elites de Minas Gerais e São Paulo, que faziam alianças entre si e revezavam o poder do estado para ambos.
Esse esquema parecido com o teatro das tesouras de hoje, ficou conhecido como Política Café com Leite, pelo leite ser o maior produto de Minas e São Paulo ser o maior produtor de café do Brasil. Embora dê para notar o uso do estado pelas elites da época para poder concentrar seu próprio monopólio, ainda havia alguma diversidade de produtos e até mesmo os estados tinham autonomia.
Mesmo hoje com o nosso nome de "República Federativa do Brasil", os estados possuem muito menos autonomia hoje do que naquela época. Naquele tempo existiam até exércitos estaduais separados do exército federal e administrados por cada estado local.
Porém, a elite do café paulista acabou rompendo com o grupo de Minas gerais e indicou o paulista Júlio Prestes, quando seria a vez de ter um mineiro na presidência do Brasil. As elites de Minas Gerais ficaram insatisfeitas com essa traição e apoiaram um terceiro candidato do Rio Grande do Sul, o gordinho admirador de fascistas, Getúlio Vargas.
As elites monopolistas do café na época perderam grande força com a crise de 29, que junto com o assassinato do candidato á vice na chapa de Vargas, João Pessoa, fez com que eles perdessem apoio e os militares ficassem insatisfeitos, com no dia 24 de outubro de 1930, o presidente Washington Luís sendo deposto por um grupo de militares no Rio de Janeiro. E no dia 3 de novembro, Vargas assumiu o novo governo.
Com isso o congresso nacional e a assembleia foram dissolvidos, centralizando o poder na presidência e nomeando pessoalmente interventores federais para governar os estados, transformando o Brasil em uma ditadura na prática.
Não só as antigas elites, como a população também ficou insatisfeita com isso, fazendo com que fosse criado o movimento constitucionalista, que demandava a convocação de uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição. Naquele ponto, Vargas governava por decretos conforme sua vontade e tinha eliminado a antiga constituição que "favorecia as elites", a tratando como o que qualquer constituição realmente é: um pedaço de papel que é alterado conforme a necessidade do estado.
Foi então que o PRP (Partido Republicano Paulista) se aliou ao PD (Partido Democrático) e uniram as forças de oposição contra a ditadura de Vargas, convocando grandes comícios e campanhas de propaganda, com empresários, trabalhadores e até mesmo os estudantes aderindo á causa democrática.
Como autor desse artigo, digo que até meu próprio bisavô lutou e sobreviveu após levar 6 tiros nas costas durante a revolução de 32 do lado paulista, odiando o Vargas na época e apoiando a restauração da constituição e da democracia no Brasil, que eram os ideais de liberdade que se tinha naquela época.
Mesmo que a democracia tenha seus problemas, ela ainda é obviamente preferível á uma ditadura comum, que é a versão mais pura do estado. Uma das vantagens da democracia é justamente a burocracia enorme que ela possui, que acaba dificultando vários passos mais autoritários do estado, mesmo que ele consiga passar por eles algumas das vezes, como o processo judicial aqui no Brasil que está totalmente tomado por interesses políticos sem respeitar a própria lei.
Mas continuando, durante uma manifestação contra a ditadura de Vargas, 4 estudantes foram mortos pelas forças policiais, sendo seus nomes: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa, Antônio Camargo de Andrade, formando a sigla M.M.D.C, que virou um símbolo do movimento constitucionalista.
O Governo federal continuou negando as demandas de São Paulo e Vargas adiava cada vez mais a formação de uma nova constituição, com no dia 9 de julho de 1932 forças armadas e civis tomaram quartéis e pontos estratégicos, tomando São Paulo e se preparando para o contra ataque do governo federal.
Era para Minas Gerais se juntar a revolta, mas o medo de vários políticos mineiros fez com que Minas traísse São Paulo e permanecesse oficialmente neutra, embora com o governo nomeado pelo próprio Vargas. Além disso, também houve simpatizantes dos paulistas no Rio Grande do Sul, com algumas tomadas de quartéis locais e o próprio governador da época, Flores da Cunha, mesmo tendo sido nomeado por Vargas, ainda era contra a centralização o poder e apoiava autonomia para os estados.
Com essa falta de apoio dos outros estados, São Paulo acabou ficando isolado e lutou contra todo o exército federal sozinho, sendo que a estratégia era justamente fazer com que os outros estados vissem a força do movimento e também se levantassem contra Vargas, que seria obrigado a negociar pela constituição, coisa que não aconteceu.
Muitas milícias civis foram formadas e lutaram no Sul de Minas Gerais, na fronteira com o Paraná e no Vale do Paraíba, acontecendo também a maior batalha aérea em território brasileiro, mas depois de quase três meses a revolta acabou em outubro de 1932. Mas os constitucionalistas ainda tiveram uma breve vitória, com uma Assembleia Constituinte sendo convocada no ano seguinte, em 1933, e a constituição promulgada em 34, somente para depois em 37 o Getúlio Vargas dar um autogolpe e acabar novamente com a constituição...
Ainda existiram revoltas menores contra o governo Vargas, como a Intentona Comunista de 35 no Nordeste liderado por Carlos Prestes, que acabou falhando junto com as outras. Infelizmente o gordinho nanico se manteve no poder até 45 e depois de ter deixado o Brasil em uma péssima situação, quis voltar alguns anos após para tentar consertar o país que ele mesmo quebrou (Será que isso lhe soa familiar?).
Mas agora vem a pergunta: Será que com nosso judiciário totalmente parcial e um governo que quer ativamente ir reprimir do povo, uma nova "revolução constitucionalista" seria uma boa ideia? E eu lhe digo: Não, não seria.
Para começar, violência nunca é uma boa alternativa para mudar nada pois além de ser contra a ética libertária, também é algo que custa caro e só gera como resultado mais caos e violência. Mesmo que considerassem essa péssima alternativa, a maior dificuldade para se tentar repetir a mesma coisa hoje seria a formação rápida de um exército novo e eficaz para combater um exército profissional e bem estabelecido. E mesmo naquela época só foi possível pois os estados brasileiros tinham um "exército estadual" próprio além do federal, com muitos combatentes improvisando táticas de batalhas para ter alguma chance de vitória.
Além disso, coisas como a questão de suprimentos e das relações internacionais com outros países, já que as grandes potências não iriam querer apoiar os rebeldes e promover uma guerra civil no segundo maior país das Américas, sem contar países como Estados Unidos, China, Venezuela e outros que poderiam até mandar tropas para ajudar seus respectivos lados.
Os militares também são subservientes ao estado e não se juntariam ao povo como alguns que defendem ditadura militar acreditam, pois o exército brasileiro hoje é somente um bando de melancias. Com isso tudo nós vemos que as chances de tanto uma guerra civil eclodir no Brasil quanto dela ser vencida seriam praticamente zero, com a logística sendo algo tão enorme que seria impossível fazer de maneira improvisada e sem descobrirem o plano antes dele acontecer.
Também temos que nos lembrar do mais importante: que uma revolução em um país como o Brasil não traria nada além de milhões de mortos sem garantia de vitória e com mais indivíduos inocentes passando fome e se refugiando aos milhões em outros países vizinhos. A Guerra entre estados ou uma guerra para substituir o estado atual não trás benefício algum.
Se o Brasil se tornasse uma ditadura no estilo da Rússia infelizmente não há um meio pronto para se combater isso e não há chances de se vencer uma guerra aberta contra o governo, então, nos resta lutar no nível individual no nível ideológico e econômico, sem violência, e nos manter o mais longe possível da influência do estado. E mesmo que aconteçam guerras e revoluções mundo afora, talvez em grande parte isso seria evitado se as pessoas não fossem obrigadas a viver dentro de um mesmo estado com regras que nunca concordaram....
https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Constitucionalista_de_1932