Um jovem propôs um plano para transformar a ideia do ancapistão em algo real, aqui do lado do Brasil. Mas, será que isso é mesmo viável?
É óbvio que como libertários, sonhamos com a ideia de criar uma sociedade libertária. Mas existem muitos obstáculos no meio do caminho que dificultam a criação de sociedades desse tipo, embora já tenham existido algumas. Para aqueles que não conhecem, podemos citar a ilha das rosas, a qual fizemos um vídeo intitulado “A ilha das rosas é só um dos muitos ancapistões que já existiram”. Nele, contamos sobre a curta história desta ilha artificial. Existem também exemplos históricos de sociedades descentralizadas, como Cospaia, a Islândia na era medieval, e até a colônia francesa de Acádia. Os vídeos comentando sobre suas histórias estão aqui na descrição.
Mas o assunto em questão, é que um jovem americano chamado Martin recentemente criou um blog chamado “AncapFuture”, no qual descreve sua ideia de como podemos criar uma sociedade libertária atualmente. Ele adota a ideia que já fora feita nos Estados Unidos: um número massivo de libertários mudando para uma determinada região, alterando completamente a política local.
Ele propôs que, primeiramente, fosse investido uma quantia de 200 dólares por ano por cada pessoa. Se existirem algumas centenas de milhares de pessoas que se identificam como libertárias no mundo, teremos uma quantia bem expressiva. Ele sugeriu que esse dinheiro fosse investido em conteúdo em prol do libertarianismo, visando uma guerra cultural contra as ideias a favor do estado. Isso iria normalizar a ideia do anarcocapitalismo em pessoas comuns, que não estudam sobre política e não entendem sobre este assunto.
Ironicamente um dos exemplos que ele dá é o de criar canais no YouTube com uma rede de pessoas “contratadas”, formando uma equipe de produção de conteúdo. Exatamente o que nós aqui do Visão Libertária já fazemos. Aparentemente, estamos indo pelo caminho certo. Se isso fosse feito, em questão de 20 anos, o movimento libertário teria captado um número absurdamente grande de pessoas. Assim, boa parte delas teriam capital, disposição e capacidade de comprar alguns terrenos privados para criar uma sociedade libertária. Com isso, os indivíduos interessados poderiam comprar pedaços de terras em países pouco habitados e relativamente fracos para não serem reprimidos através da força a tentativa de criação do ancapistão.
O local sugerido pelo autor é o território florestal da Guiana e do Suriname, que não possuem grandes cidades ou populações fora de sua capital. A população da Guiana é apenas de um milhão de pessoas, com uma baixa taxa de reposição e um dos menores exércitos do mundo, contando apenas com mil soldados.
Por serem países sem reservas gigantescas de dinheiro, poderiam facilmente aceitar vender as terras, que para eles são inúteis. Em troca, financiariam seu estado com o dinheiro que receberiam. A população libertária que se mudaria para lá, logo se tornaria uma maioria, podendo também impedir tentativas políticas de barrar esse avanço, possibilitando um caminho relativamente seguro.
Lembrando que isso tudo é somente na teoria e possui muitas contrapartidas e problemas envolvidos, como a questão de infraestrutura. Investimentos deste porte são extremamente caros, afinal, seria necessário construir uma cidade do zero, incluindo escolas, estradas, hospitais, tratamento de água e esgoto, além de uma estrutura energética que fosse eficiente e perene. Tudo isso teria que ser considerado para a ideia de literalmente construir um ancapistão do zero.
Além disso, essa ideia seria uma nova colonização das guianas. Obviamente, não para fins de imperialismo estatal, mas para fins ideológicos. Mudar para uma região e fazer pressão em uma minoria que já estava lá, pode muitas vezes dar errado, já que alguns indivíduos vão preferir continuar fazendo parte do estado da Guiana. Ainda mais fossem milhões de libertários. Mas neste caso, não seríamos influentes o suficiente para mudar leis em nossos próprios países, permitindo talvez a criação ou privatização de algumas cidades? Vale mesmo a pena gastar tudo isso para uma operação tão grande de imigração?
Essa ideia correria o risco até de gerar uma disputa violenta, chamando a atenção negativamente do resto do mundo. Isso porque, o resultado seria semelhante ao conflito entre os israelitas e os palestinos, os quais competem pela criação de seus próprios estados em uma mesma região, perpetuando a disputa. Os judeus sionistas planejaram algo semelhante a essa ideia no passado, cogitando terras pouco povoadas para criar uma grande migração e iniciar um novo estado no local.
A fim de curiosidade, foram cogitados locais como a Ilha da Tasmânia na Austrália, o norte da Manchúria entre Rússia e China - essa sendo sugerida pelo próprio Stalin - uma faixa de terra na fronteira entre a Polônia e a Bielorrússia, e até mesmo na própria Guiana - que era colônia inglesa na época - sendo a principal sugestão dessa ideia.
Isso tudo sem nem contar a possível intervenção de outros estados, já que os governos ao redor do mundo tenderiam a apoiar a Guiana, impedindo que uma área totalmente sem estado seja criada e os ameace. E a região também oferece um outro perigo atualmente: o Maduro, da Venezuela. Este déspota já ameaçou invadir a Guiana para tomar parte do seu território, o qual teria sido “roubado” pelos ingleses. São tantos fatores que fazem com que seja inviável criar essa sociedade literalmente do zero, esperando que em poucos anos ela esteja no mesmo nível que uma metrópole urbana, que existem muitas vezes há centenas de anos.
Existem alguns casos que ainda tentaram essa mesma ideia de uma nova sociedade em uma terra desabitada e esquecida pelo governo, como foi o da República Livre de Liberland. Esse foi um pequeno país libertário criado em uma porção de terra contestada entre a Croácia e a Sérvia, a qual legalmente não pertence a nenhum dos dois países. Com isso, o escritor checo Vít Jedlička se mudou para o local e proclamou seu próprio país, criando uma pequena sociedade. Ele, inclusive, arrecadou fundos via internet para esta empreitada. Porém, a própria Croácia não gostou dessa situação e bloqueou a área da micro nação, proibindo seu próprio fundador de acessá-la. Em 2023, infelizmente, alguns soldados croatas invadiram a zona, mantendo-a em “ocupação” até hoje. Mesmo sendo triste, acaba mostrando que algo sem estrutura e isolado não tem força o suficiente para combater ameaças. Isso porque os estados ao redor não deixaram a ideia se fortalecer, mesmo que haja potencial de construção de uma metrópole em tempo recorde.
Mas afinal, depois de tudo isso, qual seria a melhor solução para rumarmos ao libertarianismo? A resposta pode estar no nosso próprio vizinho ao sul, a Argentina. Embora tenha passado por décadas de uma lavagem cerebral política com o Peronismo na economia e no meio social, em 2023, Javier Milei, abertamente libertário anarco-capitalista, conseguiu ganhar a presidência.
É óbvio que nem de longe a maioria do povo argentino é libertário. Entretanto, isso mostra que não importa o nível de doutrinação estatal, o movimento libertário tem o potencial imenso de apresentar para as pessoas o porquê liberdade econômica e a falta de intervenção estatal são necessários. Com poucas pessoas que se dizem de direita sendo contra qualquer libertário, tal como os esquerdistas que não simpatizam com os comunistas, sendo uma minoria em sua própria bolha, podemos mudar o jogo se mostrarmos nossas ideias e princípios.
A Argentina mesmo em uma inflação gigantesca, está conseguindo conter gastos e ter seus primeiros superávits em décadas, com a grande reforma da “lei de bases” sendo atualmente votada no senado argentino na data de escrita desse artigo. Com bons resultados do governo do primeiro presidente libertário da história, consertando uma economia falida e trazendo prosperidade econômica, isso tende a virar uma tendência política no futuro. Provavelmente o número de simpatizantes ao movimento aumentará mais do que se fosse investido todo esse dinheiro e tempo tentando criar um país do zero.
Lembrando que essa é apenas a visão do autor desse vídeo, podendo estar tão certa quanto errada. O ponto é discutir quais os meios mais eficientes para aplicarmos essa ideia na prática, sendo elas boas ou não. Já para o revisor do artigo, o agorismo, ações ao nível do usuário, objetivando a retirada do estado da vida do cidadão, sempre serão melhores, mais bem compreendidas e mais fáceis de serem implementadas.
Uma sociedade minimamente libertária pode demorar algumas décadas até acontecer, porém, com cada vez mais liberdade no comércio e na vida das pessoas, o futuro se torna inevitável.
https://ancapfuture.com/article/ancapistan-could-become-a-reality-within-20-years-in-suriname-or-guyana
https://livecoins.com.br/liberland-pais-que-tem-bitcoin-como-moeda-oficial-e-invadido-pela-croacia/
"A ilha das rosas é só um dos muitos ancapistões que já existiram"
https://www.youtube.com/watch?v=90rWwsA1HDY&t=6s&pp=ygVEQSBpbGhhIGRhcyByb3NhcyDDqSBzw7MgdW0gZG9zIG11aXRvcyBhbmNhcGlzdMO1ZXMgcXVlIGrDoSBleGlzdGlyYW0%3D
"Italianos fundaram um ancapistão e olha no que deu"
https://www.youtube.com/watch?v=CQHn5jqqEAo
"Acadia seria o Ancapistão FRANCÊS no CANADÁ Colonial?"
https://www.youtube.com/watch?v=sxl4Q5WTLtY&t=52s