Já sabemos que o estado causa inúmeros danos materiais, mas o pior é que ele consegue moldar e corromper o seu comportamento. Iremos revelar aqui como isso acontece.
Um dos pontos mais importantes do empreendedorismo é a cultura organizacional. Os empresários sabem que a cultura de uma empresa pode definir o seu sucesso ou o seu fracasso. Tanto que a adequação com a cultura da empresa, o chamado fit cultural, é um dos principais critérios para a contratação de novos funcionários.
No sentido empresarial, cultura se refere à forma que os colaboradores se comportam de forma geral. É comum que empresas tenham um modus operandi próprio, e as pessoas naturalmente vão se adequando a isso. Por exemplo, algumas empresas prezam pelo perfeccionismo, outras pelo risco. Algumas prezam pela organização, outras pela velocidade. Algumas incentivam mais a colaboração, outras a competição. Não existe uma fórmula única, culturas que funcionam em um contexto, podem não funcionar em outros.
Em todos os casos, a forma de agir da liderança influencia diretamente a cultura da empresa. Isso acontece por alguns motivos, o primeiro deles é que a liderança vai valorizar as pessoas que se comportam da forma que ela considera adequada. Naturalmente, os funcionários querem mostrar serviço e vão tender a agir da forma que a liderança valoriza. Outro motivo é a característica humana de se espelhar nos que estão à sua volta. Então quando se está num lugar em que a liderança age de certa forma, os funcionários aprendem que esta é a forma correta de agir. Ou, pelo menos, percebem que é assim que a banda toca, e acompanham a banda.
Na sociedade como um todo, o mesmo acontece. Comportamentos vão se formando e sendo copiados e até passados de geração em geração. E da mesma forma que a liderança de uma empresa influencia fortemente na cultura de seus funcionários, a liderança de uma nação influencia fortemente na cultura de seus cidadãos.
No entanto, há uma grande diferença entre empresas e a sociedade. Os donos das empresas são proprietários legítimos dela, e são os maiores afetados pelo seu sucesso ou fracasso. Por outro lado, o estado é um ente ilegítimo que domina indevidamente um território e mantém o seu poder usando o monopólio da força. Os políticos, que lideram o estado, não pagam o preço do sucesso ou fracasso do país. Eles podem ter resultados pífios, como é o comum, e continuar com sua privilegiada carreira política e com seus ganhos financeiros, muitas vezes ficando ainda mais ricos.
Como é de se esperar, a essência antiética do estado, junto com sua forma incompetente e autoritária de agir, contamina o comportamento da população das mais diversas formas. O Brasil, especificamente, tem um longo passado de afronta à liberdade, com governos de planejamento econômico fortemente centralizado e até ditaduras. Isso impacta até hoje a cultura social.
Uma das características dos brasileiros é consumir todo o seu dinheiro, poupando pouco e investindo menos ainda. O histórico de hiperinflação, principalmente na década de 1980 e início dos anos 90, contribuiu muito para isso. Em épocas de inflação, o dinheiro apodrece a cada dia que está guardado. Então, durante anos, as pessoas se acostumaram a correr para gastar o seu salário quanto antes. O hábito de poupar e de investir foi ficando atrofiado com o tempo. Se leviatã estatal não imprimisse dinheiro adoidado, aumentando a base monetária, o povo não sofreria com a inflação de preços, e teríamos uma cultura financeira totalmente diferente.
Relacionado a isso está a estúpida pirâmide do INSS. Os brasileiros, em geral, se preocupam pouco com a aposentadoria, pois se acostumaram a confiar no INSS. O mais lógico seria cada um poupar e investir o seu dinheiro durante a vida, para garantir uma renda quando a velhice chegar. Mas o governo obriga a população produtiva a sustentar a população idosa, e muitos jovens de hoje acreditam que serão bancados no futuro. Só não pararam para pensar que a conta não vai fechar, já que a população idosa vai aumentar, e a proporção entre jovens e idosos vai tornar o sistema cada vez mais inviável. Mesmo com essa falência do INSS, as pessoas se acostumam com o sistema e recebem mais esse desincentivo à educação financeira.
Ainda falando de educação financeira, não podemos esquecer do FGTS. Em vez de aprender a poupar para ocasiões difíceis, ou comprar seguros para se proteger no caso de invalidez, o brasileiro aprende a confiar no fundo de garantia do governo. Parte do salário do trabalhador vai para um fundo com um rendimento ridículo, que poderia ser muito melhor investido em outros ativos.
Outra característica do governo, que o povo acaba absorvendo, é o desprezo ao empreendedorismo. Em alguns países um pouco mais livres, como os Estados Unidos, as pessoas ensinam aos filhos o valor de trabalhar e empreender. É comum que crianças façam barracas de limonada na porta de casa para ganhar seus primeiros trocados, ou que vendam os seus brinquedos e roupas usadas em bazares. Já no Brasil, o dinheiro é visto como algo sujo, e as crianças aprendem nos filmes que os empresários malvadões querem destruir as florestas e matar as fadas, e se não fosse a Xuxa junto com os duendes, tudo estaria perdido.
O brasileiro tem mania de nobreza, de desprezar o trabalho. Talvez pelo fato de termos tido um império nas terras tupiniquins, os trabalhos simples são vistos como inferiores. Há países em que todo jovem trabalha como garçom, faxineiro ou babá para conseguir sua primeira renda e ir juntando sua graninha. Isso é visto de forma positiva, já que o jovem começa a ganhar experiência profissional, que vai ajudar em profissões futuras. Mas como somos metidos à besta, isso aqui no Brasil é considerado vergonhoso e muitos jovens de classe média só vão ter alguma experiência profissional no final da faculdade. Os políticos são o estereótipo do desejo de nobreza. Eles desfilam com sua comitiva de assessores, recebem inúmeros penduricalhos e gozam de seu foro privilegiado.
Os políticos podem fazer diversas nomeações, assim como influenciar em empresas estatais, autarquias e até em ONGs. Não é à toa que há no Brasil a cultura tão forte do apadrinhamento. Em vez de buscarem ser produtivas, as pessoas buscam ter padrinhos fortes. Isto é, algum amigo de peso que possa te colocar em um cargo ou arranjar um emprego. É mais importante ser bom na politicagem e no toma-lá-dá-cá do que no seu trabalho real.
Outro fator que chama a atenção é o inchaço do funcionalismo público e sua estabilidade. Quem passa em concurso público está feito na vida. É só não cometer nenhuma grande besteira que o emprego está garantido, já que é proibido demitir funcionários públicos por desempenho. Isso cria o sonho da estabilidade na população. Em teoria, as pessoas deveriam aprender habilidades relevantes para a sociedade e se manter sempre evoluindo. Essa é a melhor forma de sempre ter boas opções de emprego à disposição. Mas acaba sendo mais vantajoso tornar-se especialista em fazer provas de concurso e garantir a estabilidade pelo poder da lei. Desta forma, em vez de as pessoas serem educadas a se manterem sempre produtivas, elas aprendem a estudar para uma prova e depois se acomodam pelo resto da vida.
Todo o aparato estatal cria uma enorme e desnecessária burocracia para pessoas e empresas. Todo o dia são criadas leis e mais leis. As pessoas aprendem erroneamente que um lugar organizado é um lugar cheio de regras para tudo, e reproduzem esse comportamento. Apesar de gostar de criar regras, o brasileiro é conhecido por odiar seguir regras, e não é por acaso. Com a cultura da burocracia, as pessoas se acostumam a buscar os atalhos, e tentar dar o famoso jeitinho brasileiro para conseguir adiantar a sua vida. O pior é que isso é um incentivo para a corrupção, já que muitas vezes, quem tiver esquemas escusos consegue acelerar a sua vida. Já quem estiver fora do esquema pode ficar sendo atrasado por infinitos formulários, filas e carimbos.
Outra característica da nossa população é evitar dar a sua opinião. As pessoas veem algo errado em alguma instituição e preferem ficar caladas, para evitar problemas. Isso é um efeito tanto da cultura do apadrinhamento, quanto das ditaduras que tivemos. Mesmo nos dias atuais, na atual demogracinha de faz de conta, é de fato arriscado dar a sua opinião em determinados lugares. Sempre há o risco de algum careca togado te dar 17 anos de prisão, ou mais. Até discutir no aeroporto por uma fila pode ser enquadrado como ato antidemocrático. Desta forma, o brasileiro aprende a engolir os sapos e ficar calado, muitas vezes sendo injustiçado e humilhado por autoridades públicas. Isso se distancia de uma sociedade saudável, na qual é valorizado quando se apontam problemas e se sugerem soluções.
Com isso, o brasileiro prefere outros métodos para resolver problemas: entrar na justiça. Com o conceito da hipossuficiência muitas vezes aplicado, o cidadão é incentivado a processar o seu patrão, ou alguma empresa em que tenha sido consumidor. A justiça trata o trabalhador e o consumidor como pobres coitados, e favorece o suposto lado mais fraco. Desta forma, o cidadão aprende que é besteira tentar resolver as coisas pelo diálogo, afinal, é só usar a briga judicial para casos extremos. Assim, ele é incentivado a partir para a briga por qualquer problema.
Outro ponto que mina a cultura social é o paternalismo estatal. O governo se coloca como o resolvedor de todos os problemas, e tira o incentivo à proatividade e à criatividade. A população de Nova Roma do Sul, no Rio Grande do Sul, fez algo excepcional e, por conta própria, juntou fundos e construiu uma ponte que havia sido levada por uma enchente em 2023. Por sinal, a construção foi tão bem feita que até o momento, em 2024, vem resistindo à forte enchente que atingiu a região. Esse comportamento por parte do povo é bastante raro. O que a população aprende a fazer é conseguir colocar no poder políticos que vão retribuir em favores. Não há, portanto, muitos incentivos para as pessoas se mexerem e resolverem os seus problemas.
Aliás, isso também se aplica à caridade. Com programas como o Bolsa Família, vale-gás e outros de assistência social, a população aprende que o governo é o responsável por cuidar dos necessitados. Isso é um desincentivo à caridade privada. No entanto, o governo é tão falho em resolver os problemas sociais, que a população, apesar de já pagar impostos, continua ajudando os mais necessitados por conta própria em casos mais graves. Por outro lado, há aqueles que se negam a praticar caridade já que o governo está, supostamente, ajudando essas pessoas com dinheiro público. Se um governo, numa social-democracia, expropria tantos recursos da sociedade para aplicar em políticas públicas para atender a todos a custo zero, isso tira o incentivo da sociedade desenvolver a autorresponsabilidade para ajudar uns aos outros.
Para não falar apenas das características negativas, vale ressaltar a criatividade do brasileiro. Somos conhecidos internacionalmente por termos jogo de cintura e resolvermos os problemas da forma que for possível. Vivemos em um país pobre, com a economia completamente travada pelo leviatã estatal, mas damos nosso jeito de sobreviver mesmo assim. É claro que é preferível um lugar onde tudo funcione maravilhosamente bem, mas é fato que da dificuldade surgem habilidades. Mar calmo nunca fez bom marinheiro, e no Brasil, o que não falta são águas revoltas.
Portanto, é preciso romper com o pensamento estatista. O estado não é somente um ente prejudicial no sentido material, mas é também no sentido psicológico. Ele infantiliza e corrompe a população, além de destruir laços sociais que seriam construídos com a caridade privada. É preciso que a população seja dona de seu próprio futuro, e não se deixe acreditar no paternalismo barato que o governo sempre estimula. Não podemos nos basear no exemplo dos que usam a coerção para impor seus interesses. Temos que nos espelhar nos que buscam genuinamente ser pessoas de valor, que alcançam seus objetivos por merecimento, conseguindo contribuir positivamente para a vida do próximo.
https://direitoreal.com.br/artigos/a-hipossuficiencia-no-ambito-das-relacoes-de-consumo
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/01/20/moradores-se-unem-para-reconstruir-ponte-que-foi-destruida-por-enchente-no-rio-grande-do-sul.ghtml