A Revolta contra a CIDADE CAPITALISTA em ZOM 100

Em mais um artigo sobre Zom 100, hoje falaremos sobre a saga na cidade de comerciantes com uma elite que controla e monopoliza o mercado da cidade. Mas afinal, eles vivem num sistema capitalista ou em um estado qualquer?

Caso você não conheça, Zom 100 é um Mangá escrito por Haro Aso e que foi posteriormente adaptado para anime. A obra é sobre um jovem adulto chamado Akira que trabalha com uma carga horária imensa em um escritório sufocante no Japão. Sua vida é abalada quando surge um apocalipse zumbi que faz com que ele não precise mais ir trabalhar, então ele pode aproveitar seus últimos momentos de vida.

A partir daí, ele faz uma lista com 100 coisas que ele quer fazer antes de se tornar um zumbi, formando um grupo de amigos e viajando pelo Japão infectado, querendo cumprir seus desejos.

Já deixamos claro que este vídeo contém spoilers sobre uma saga específica da obra. Então, se quiser, recomendo primeiro você assistir ou ler o mangá. Agora vamos para o vídeo...

Quando a turma de protagonistas decide ir atrás de uma suposta cura e passam pela cidade de Osaka, uma cidade japonesa famosa pelo comércio e pela movimentação, acabam sendo encurralados por uma horda de zumbis. Eles são salvos por uma figura misteriosa que descobrem ser Takemina, um antigo colega de faculdade de Akira e Kencho, os dois protagonistas.

O verdadeiro nome de Takemina é Minakata, mas ganhou esse apelido devido ao Deus da sorte "Takeminakata no mikoto" de Nagano. Takemina sempre foi extremamente bom em apostas e chegou a pagar os custos da faculdade somente com apostas mensais que ele fazia.

O cara então leva o grupo para uma grande feira comercial murada dentro da cidade, que é o que restou da antiga Osaka. Essa cidade funciona como uma grande feira, aonde os cidadãos passaram a usar comida enlatada como moeda, enfrentando de dia os zumbis para coletar coisas que acharem e que podem vender lá.

O dinheiro estatal após o apocalipse passou a não ter nenhum valor por não possuir um lastro real a não ser aquele do próprio governo. Uma vez que o estado colapsou, não existe mais nenhum valor em seu dinheiro. Por isso, o povo comerciante de Osaka uniu o útil ao agradável e deu valor a essa economia de enlatados com base na utilidade que elas têm em serem alimento e durarem por bastante tempo. Outro fator que valoriza esses produtos enlatados é o fato de serem difíceis de produzir novas unidades no meio do apocalipse zumbi.

As pessoas nesse lugar atendem à demanda das outras, arriscando suas vidas para conseguir certos itens, e em troca recebem essas latas. Uma das personagens até se surpreende que a economia de mercado ainda exista mesmo com um ataque de zumbis. Porém, nem tudo são flores, pois nesse lugar existe uma elite que acumula grandes estoques de latinhas e forma sua própria 'elite burguesa'.

É nesse ponto que a coisa desanda das ideias e, durante os capítulos, fica óbvio a intenção do autor. Ele sempre retrata os membros dessa elite como grotescos em aparência e soltando frases que sairiam da mente de um Comunista seguidor de Ian Neves. Entre essas frases, vemos: "Nós só temos esse poder porque tivemos sorte e acumulamos latinhas primeiro" ou "Nenhum de nós trabalha porque somos ricos". Um deles até fala que eles só souberam acumular primeiro, porque nem gerar lucro eles conseguiam e outro comenta que não fazia nada, apenas deixa seus funcionários trabalharem duro para si.

Sim, claro! O velho discurso batido de que "só existem ricos porque eles herdaram a fortuna de alguém" e quando aparece uma pessoa que veio de família pobre e enriqueceu com trabalho duro, eles dizem que "foi puramente sorte". É claro que a mobilidade social não é algo fácil, principalmente no Brasil e outros países socialistas, porém, o único sistema que permite isso é justamente o livre mercado. Por outro lado, o governo e seus lacaios só tem interesse em manter sua própria população como um servente eterno. O grande desejo dos políticos e funcionários públicos é proteger seus interesses financeiros e econômicos como empresas estatais, sindicatos e legislações que inviabilizam a livre concorrência, mantendo suas reservas de mercado protegidas. E quando surge a crise econômica, eles teimam em culpar o capitalismo - quanta hipocrisia!

Essa mesma "burguesia capitalista" também proíbe o acúmulo maior de latinhas do que as deles e age mais como um estado aristocrata do que qualquer modelo de livre mercado. Eles cobram impostos à força dos comerciantes e até tem um líder supremo chamado de "Mestre das Latinhas", que manda na região com base na força. Ainda assim, o mercado daquele local acaba sustentando o povo de lá e tornando a vida deles mais confortável mesmo naquele caos.

Os protagonistas, querendo obter mais informações dos ricaços sobre a possível cura que estava sendo feita em algumas pessoas, acabam tendo que abrir o próprio negócio para juntar latinhas manualmente. Eles decidem por abrir um bar com mesinhas e TVs para os clientes, colocando o princípio do empreendedorismo de fazer algo diferente para se destacar da concorrência.

De início as vendas vão mal, e o único cliente que aparece acaba odiando o local por ser caro e de má qualidade. Porém, conforme o tempo passa, eles vão aprimorando seu negócio e melhorando a qualidade do serviço, colocando uma lareira para esquentar as pessoas, barateando os preços e aprendendo a cozinhar e fazer drinks melhores. Conseguem assim, por atrair mais gente e acabam fazendo até o primeiro cliente mudar de opinião sobre eles.

O bar é um sucesso e eles juntam uma boa quantidade de latinhas, porém o Akira vai se tornando cada vez mais "obcecado" pelo dinheiro e em economizar o que eles têm. Até que ele acaba roubando todas as latinhas que o grupo inteiro conseguiu e paga os ricaços para morar com eles, para fazer parte da elite da cidade.

O grupo, obviamente, se sente injustiçado e revoltado com Akira, acreditando que não tem mais alternativa para conseguir juntar tudo aquilo novamente. Eles, sem escolha e tristes com o amigo, acabam indo ao casino da cidade que é controlado pelos ricaços. Lá possuía um jogo no qual as pessoas apostavam suas latinhas e haveria duas portas: o escolhido para participar voluntariamente teria que escolher uma delas para entrar, caso ele entrasse por sorte na que tivesse latinhas, ele ficaria com todas. No entanto, se entrasse na porta errada, seria devorado em um poço de zumbis.

O próprio Akira acaba conversando com um idoso faxineiro do local que fala que o "objetivo final" do capital não é fazer com que as pessoas melhorem seu modo de vida, mas apenas aumentar a si próprio. É óbvio que o dinheiro não tem objetivo próprio, uma moeda não tem consciência para querer fazer algo, mas o comércio tem como consequência melhorar a vida das pessoas. Até porque, caso contrário, teríamos mantido o mesmo sistema e modo de vida do feudalismo, no qual o comércio era restrito com pequenos estados de senhores feudais. Mas o capitalismo internacional e o modo de produção industrial beneficiam pessoas de todas as regiões do planeta, criando os melhores incentivos para os governos de diferentes nações fazerem acordos e alianças entre si. No fim, as pessoas mais beneficiadas são aquelas comuns e sem poder político, que passam a ter acesso a produtos e serviços incríveis que trazem conforto e melhoria em suas vidas.

Deixamos as perguntas: se o "capital" não melhorou a vida das pessoas, por que a qualidade de vida aumentou nos últimos séculos com a Revolução Industrial e a expansão do comércio ao nível global? E por que a taxa de mortalidade infantil e desnutrição diminuiu tanto em todo o mundo? A realidade não pode negar os fatos dos benefícios do desenvolvimento do capitalismo. Mas para alguns, tudo isso deve ser só coincidência mesmo.

Enquanto isso, o grupo original convence o resto dos comerciantes a fazerem uma aposta com todas as economias que possuíam, de modo a dobrar elas em uma única grande aposta no jogo das duas portas. Takemina jogaria, conseguindo fazer os ricaços perderem.

Por pouco, Takemina quase cai no fosso, mas é salvo por um aviso de Akira. Ele acaba ganhando a aposta e dobrando-a com os ricaços, que, sem escolha e para se salvarem, o fazem e perdem novamente. A antiga elite é deposta por essa ação popular, e o povo pede para que Takemina seja o novo 'senhor das latinhas'. Quando descobrem que o atual senhor das latinhas, na verdade, era apenas um zumbi trancafiado.

Parece até uma piada de mau gosto quando uma das protagonistas então cita Karl Marx. Ela diz que há 150 anos o intelectual alemão tinha previsto o colapso do capitalismo, com os capitalistas acumulando cada vez mais e o mercado diminuindo com a desigualdade de renda, até que a própria sociedade não suportaria isso.

Eu sei, você está rindo agora, não é? Marx estava tão correto que é por isso que hoje nós trabalhamos em nossas fábricas coletivas, fazendo serviços voluntários no Gulag, esperando na fila do pão estatal e escutando o hino da internacional socialista na Rádio! Que sucesso teve as coletivizações das terras e das fazendas na União Soviética e na China comunista! Brincadeiras à parte!

É impressionante que até mesmo quando o mundo ‘colapsou’, o mercado capitalista com suas trocas voluntárias continuou de pé. Seja na crise de 1929, na Primeira e Segunda Guerra Mundial, na Guerra Fria, na Crise de 2008, na Pandemia de 2020, ou até num apocalipse zumbi, ainda terá gente falando sobre o "colapso inevitável" do capitalismo. Essas mesmas pessoas que tanto criticam esse sistema econômico são aquelas que não renunciam a todos os seus luxos e aparelhos tecnológicos comprados no mercado.

O que dizer dessa revolta anti-burguesia onde o mercado era extremamente taxado por impostos e os comerciantes eram ameaçados com suas vidas? No fim, eu posso até concordar com o carinha que disse sobre os burgueses da história de Zom 100 não saberem lucrar, pois tudo que eles fizeram para enriquecer foi montar um estado particular para lhes beneficiar. Por outro lado, os protagonistas enriqueceram na base do comércio com qualidade.

É muito fácil se tornar rico roubando o trabalho dos outros, mas isso jamais será legítimo. Mas numa sociedade com leis sólidas e com os corretos incentivos de punição e recompensa, isso tudo só sairá mais caro para o ladrão, seja do ponto de vista material, social ou moralmente.

Referências:

https://zombie-100.fandom.com/wiki/Takeru_Minakata
https://zombie-100.fandom.com/wiki/Zom_100:_Bucket_List_of_the_Dead