No Brasil de 2025, gritar “Lula ladrão” virou caso de Polícia Federal. Enquanto criminosos perigosos andam livres, uma dona de casa é investigada por expressar sua opinião com um megafone.
Vocês acreditam que uma dona de casa pode virar alvo da Polícia Federal por gritar "Lula ladrão"? Pois é exatamente isso que está acontecendo no Brasil de 2025. Enquanto traficantes, assassinos e corruptos circulam livremente pelas ruas, o Ministro da Justiça Ricardo Lewandowski achou por bem determinar abertura de inquérito contra uma cidadã comum cujo único "crime" foi expressar sua opinião política com um megafone.
O caso é tão surreal que parece roteiro de comédia – se não fosse trágico. Uma mulher passa de carro em frente à residência do presidente em São Paulo, pega um megafone e grita duas palavrinhas mágicas: "Lula ladrão". Resultado? Agentes da Polícia Federal anotam a placa, seguem o rastro, batem na porta da casa dela e – pasmem – o próprio Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, determina abertura de inquérito para investigar possível "crime contra a honra".
Oito anos depois de ter deixado o STF, Lewandowski continua demonstrando sua vocação natural para o autoritarismo. Agora, na condição de Ministro da Justiça, ele transforma uma manifestação política espontânea em caso de polícia. É como se dissesse: "Vocês podem ter suas opiniões, mas fiquem quietinhos em casa. Manifestar-se publicamente sobre o governo é crime."
O mais revelador de toda essa história é o depoimento da mulher. Ela disse que foi "tomada por um impulso irracional" e que se arrependia "profundamente do ocorrido". Vejam só: no Brasil de hoje, expressar uma crítica política é considerado um "impulso irracional". A própria vítima do sistema já internalizou que ter opinião contrária ao governo é algo pelo qual se deve pedir desculpas.
Isso não é coincidência. É o resultado de anos de criminalização sistemática do discurso político. Quando você transforma críticas em crimes, quando você manda a Polícia Federal atrás de quem ousa questionar o poder, você cria um ambiente de terror psicológico onde as pessoas começam a se censurar preventivamente.
A mulher não cometeu nenhum crime real. Não agrediu ninguém, não destruiu propriedade alheia, não ameaçou violência. Simplesmente expressou, em duas palavras, sua opinião sobre o presidente da República. Mas no Brasil kafkiano de Lula e Lewandowski, isso é suficiente para mobilizar a máquina estatal de perseguição.
Aqui chegamos ao ponto central da farsa jurídica. O Código Penal brasileiro estabelece penas mais severas para "crimes contra a honra" quando cometidos contra o Presidente da República. Ou seja: a lei já admite, desde o início, que algumas pessoas são mais iguais que outras. Que a "honra" presidencial vale mais que a sua ou a minha.
Mas vamos aos fatos: onde está o crime? A mulher chamou Lula de "ladrão". Será que isso é calúnia (acusação falsa de crime)? Bem, considerando que Lula foi condenado em primeira e segunda instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro – tendo sido beneficiado apenas por decisões posteriores do STF –, não parece exatamente uma "acusação falsa", não é mesmo?
Será difamação (atribuir fato ofensivo à reputação)? Ora, estamos falando de um político que governou durante o maior escândalo de corrupção da história brasileira, o Petrolão. Falar sobre corrupção no contexto Lula é como falar sobre água no contexto oceano.
Resta a injúria (ofensa à dignidade pessoal). Mas aqui temos um problema conceitual: políticos, especialmente presidentes, são figuras públicas que, por definição, estão sujeitos ao escrutínio e à crítica popular. Em qualquer democracia minimamente funcional, chamar um político de "ladrão" é parte do debate público normal.
Agora vamos fazer um exercício de memória. Quantas vezes, durante o governo Bolsonaro, artistas, intelectuais, jornalistas e militantes de esquerda chamaram o então presidente de "genocida", "fascista", "assassino"? Quantos inquéritos foram abertos? Quantos mandados de busca e apreensão foram expedidos?
A resposta é zero. Nenhum. Nada. Na época, isso era "liberdade de expressão", "direito de crítica", "resistência democrática". Aparentemente, só existe crime contra a honra quando a vítima é de esquerda. Quando é de direita, pode chamar do que quiser que está tudo liberado.
Essa seletividade da Justiça brasileira não é bug, é feature. É o sistema funcionando exatamente como foi desenhado para funcionar: protegendo uns e perseguindo outros, sempre de acordo com a conveniência política do momento.
E o que dizer da Polícia Federal nessa história toda? Agentes federais – pagos com nossos impostos – gastaram tempo, recursos e energia para investigar uma dona de casa que gritou duas palavras. Anotaram placa, fizeram investigação, foram até a casa da mulher, colheram depoimento.
Para isso serve a PF hoje? Para perseguir cidadãos que ousam criticar o governo? Para intimidar pessoas comuns que expressam suas opiniões políticas? Essa é a "segurança pública" que Lewandowski está promovendo?
Enquanto isso, crimes reais – roubos, homicídios, tráfico, corrupção – continuam impunes país afora. Mas ai de quem disser "Lula ladrão" perto da residência presidencial. Isso sim é prioridade nacional.
O mais perverso de tudo isso é que o objetivo real já foi alcançado. Não importa se a mulher será ou não condenada. O recado já foi dado: critiquem o governo e vocês serão investigados. Manifestem-se e a Polícia Federal baterá na porta de vocês.
Quantas pessoas, depois de saber dessa história, vão pensar duas vezes antes de expressar suas opiniões políticas? Quantos vão se autocensurar por medo de virar alvo do aparato repressivo estatal? Esse é o objetivo real: criar um ambiente de medo onde as pessoas prefiram ficar caladas a correr o risco de serem perseguidas.
O mais irônico é que tudo isso acontece em nome da "defesa da democracia". Lewandowski e seus asseclas adoram falar sobre "proteção das instituições democráticas" enquanto transformam o Brasil em uma caricatura de regime autoritário.
Democracia não é proteger políticos de críticas. É justamente o contrário: é garantir que qualquer cidadão possa questionar, criticar e até xingar seus governantes sem medo de retaliação. É admitir que, numa democracia real, nenhum político está acima do escrutínio popular.
Mas no Brasil de Lula e Lewandowski, a "democracia" significa que você pode votar de quatro em quatro anos, mas deve ficar de boca fechada o resto do tempo. Pode escolher entre as opções que o sistema oferece, mas não pode criticar quem ganhou.
Este caso não é isolado. É parte de um padrão sistemático de criminalização da oposição política que vem se intensificando desde 2023. Temos inquéritos no STF sem crime tipificado, censura prévia de redes sociais, perseguição a jornalistas, prisões de manifestantes, humoristas condenados a 8 anos de prisão por contar piadas – como no caso Léo Lins –, e agora a cereja do bolo: dona de casa sendo investigada por expressar opinião política.
A condenação de Léo Lins a 8 anos de prisão por fazer stand-up já havia estabelecido um precedente perigoso: no Brasil, fazer piadas sobre grupos "protegidos" é crime mais grave que tráfico de drogas. Agora, com o caso da dona de casa, vemos que nem precisa fazer piada. Basta expressar uma opinião política crítica para mobilizar todo o aparato repressivo estatal.
Cada caso isolado pode parecer exagero, mas o conjunto revela uma estratégia clara: intimidar, silenciar e controlar o debate público. É a construção meticulosa de um ambiente onde apenas uma narrativa é permitida e qualquer dissidência é tratada como crime.
A liberdade de expressão não é um presente do governo. É um direito natural, inalienável, que existe independente do que qualquer lei diga. E esse direito inclui – necessariamente – o direito de ofender, de criticar duramente, de usar linguagem forte contra figuras públicas. Na óptica libertária, não existe crime de ofensa. Cada um escolhe se quer se ofender ou apenas ignorar o que alguém fala sobre si.
Se você não pode chamar um político de "ladrão" – mesmo quando há evidências abundantes de que ele pode ser exatamente isso –, então você não tem liberdade de expressão. Tem apenas a ilusão de liberdade, concedida graciosamente pelo poder enquanto você se comportar direitinho.
O caso da dona de casa que gritou "Lula ladrão" é um teste para a sociedade brasileira. Vamos aceitar que expressar opinião política se torne crime? Vamos concordar que alguns políticos são intocáveis, protegidos por uma redoma jurídica que os coloca acima de qualquer crítica?
A resposta que dermos definirá se ainda somos uma democracia ou se já nos transformamos definitivamente em algo muito diferente e muito mais sombrio. E, a julgar pelos rumos atuais, não parece que estamos escolhendo o caminho da liberdade.
https://ocp.news/politica/lewandowski-manda-pf-investigar-mulher-que-gritou-lula-ladrao
https://www.poder360.com.br/poder-justica/lewandowski-manda-pf-investigar-mulher-que-gritou-lula-ladrao/