Enquanto a Venezuela vai ter um crescimento econômico de 4% em 2024, a Argentina vai passar por um período de recessão. Será que isso prova a superioridade econômica do comunismo?
Poucos dias atrás, uma notícia bastante curiosa comparando dois países latino-americanos, circulou pela mídia esquerdista brasileira. Trata-se de dados divulgados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU, acerca do crescimento do PIB das nações que compõem essa região, em 2024. E precisamos admitir: os dados são surpreendentes!
De fato, de acordo com o que foi apurado por essa comissão, o país com o maior crescimento econômico na América do Sul será ninguém menos que a Venezuela! Segundo esses dados oficiais, a nação comandada com mãos de ferro por Nicolás Maduro terá um crescimento econômico de 4% este ano. Essa informação não surpreende apenas pelo fato de a Venezuela ter um aumento do PIB ‒ algo que, por si só, é bem diferente do que estamos acostumados a ver. Também o percentual desse crescimento é bastante relevante.
Por outro lado, porém, a Argentina de Javier Milei, com todo o seu “ultraliberalismo econômico” e suas medidas de redução do aparato estatal, vai registrar um crescimento negativo de sua economia em 2024 ‒ ainda de acordo com dados da citada comissão. O PIB dos hermanos vai diminuir 1% este ano, a segunda pior queda em toda a região, perdendo apenas para o Haiti ‒ que, convenhamos, é um caso perdido.
Pois bem, isso representa uma prova inequívoca de que o comunismo venceu o neoliberalismo de Javier Milei, certo? É claro que não! Obviamente, essa notícia é um prato cheio para a esquerda midiática brasileira, a extrema-imprensa passadora de pano para ditaduras comunistas. Essa manchete, em especial, foi repercutida ‒ ou melhor, comemorada ‒ pelo site Brasil 247, que é, sem dúvidas, um dos maiores antros de esquerdismo no Brasil. Torcida não é análise econômica; portanto, vamos apresentar aqui alguns argumentos que comprovam que os dados apresentados pela ONU são, no mínimo, duvidosos; ou pelo menos enganosos.
Em primeiro lugar, é preciso frisar que o PIB é um indicador bastante questionável. Pense, por exemplo, que os gastos estatais ajudam a compor a base de cálculo do PIB de um país. Nesses gastos entram não apenas os investimentos, como construção de estradas, portos, prédios, mas também as despesas correntes, como pagamento de salários a funcionários públicos. Ou seja, um governo que dê sucessivos aumentos salariais a seus funcionários verá o PIB crescer de forma considerável. Nesse cenário, como é possível estimar corretamente o crescimento da economia de um país praticamente todo controlado pelo estado, como a Venezuela?
Além disso, em nações com pouca ou nenhuma liberdade, os dados utilizados para as análises oficiais da economia são fornecidos diretamente pelo governo, sem que haja mecanismos reais para comprovação do que foi informado. Ou seja: tudo o que se refere ao suposto crescimento de 4% da economia venezuelana, em 2024, foi aprovado e divulgado pelo governo de Nicolás Maduro. Pense que, da mesma forma, a citada comissão estima um crescimento de 1,4% para Cuba em 2024 ‒ sim, o crescimento do PIB de um país em que falta de tudo. Adivinha de onde vieram os dados que fundamentaram esses números? Pois é.
Em segundo lugar, precisamos frisar que estamos falando, o tempo todo, de percentuais. E esse tipo de dado engana facilmente os mais desatentos. Ter um crescimento percentual maior não significa ser uma economia melhor, ou ser um país mais rico. Significa, apenas, que precisamos descer aos detalhes dos números para entender o que esse percentual realmente significa. Afinal de contas, uma economia que cai por anos seguidos tende a apresentar algum grau de crescimento na seqüência.
Vamos fazer um exercício teórico a esse respeito. Pense em um país hipotético que possua um PIB de US$ 1 bilhão em determinado ano ‒ digamos, no ano A. No ano seguinte, o ano B, o PIB desse país caiu para US$ 700 milhões. Estamos falando, portanto, de uma queda de 30% na economia, correto? Pois bem: agora, pense que, no ano C, esse país se recuperou, voltando a ter um PIB de US$ 1 bilhão. Então, nesse terceiro ano, o PIB desse país cresceu 42%.
Veja, portanto, como esses números são enganosos: no longo prazo, não houve crescimento econômico algum. O país simplesmente rodou, rodou, e ficou no mesmo lugar. Contudo, uma fotografia que levasse em conta apenas o ano C daria a entender que esse país, na verdade, é um verdadeiro foguete econômico!
Embora esse exemplo seja exagerado ‒ até porque o exagero é um ótimo recurso retórico ‒, podemos encontrar casos semelhantes e mais realistas na história recente de praticamente todos os países do mundo. Afinal de contas, poucos anos atrás, tivemos o baque econômico decorrente da pandemia. Vejamos, por exemplo, o caso brasileiro: em 2020, o PIB do Brasil caiu 3,3%. No ano seguinte, esse indicador teve uma recuperação de 4,8%. Parece uma melhora significativa, não é mesmo? Contudo, esse número é apenas uma enganação: a economia brasileira patinou no mesmo lugar. Não se preocupe, percentuais sempre fazem isso; são mestres em enganar.
Então, podemos usar essa percepção para tratar da comparação entre Venezuela e Argentina. Qual dos dois países teve maior decréscimo em sua economia, na última década? É claro que ambos tiveram um desempenho econômico ruim; no entanto, a Venezuela teve redução no seu PIB por quase 10 anos seguidos! Depois de cair tanto, era natural que qualquer melhoria econômica representasse um ganho substancial ‒ em pontos percentuais, é claro. É por isso que a Venezuela apresentou um crescimento econômico de 12% em 2022, e de 5% em 2023. Não é que melhorou muito: só tinha piorado demais, antes.
É claro que algumas medidas tomadas pela ditadura venezuelana estão dando algum respiro para a economia do país. Também a breve suspensão de sanções contra empresas venezuelanas, por parte dos Estados Unidos, representou algum grau de alívio econômico. Nada disso, porém, é definitivo, nem tampouco vai levar a uma recuperação total desse país, que, sob todos os aspectos, está completamente destruído.
Chegamos, assim, ao nosso terceiro argumento. O PIB da Argentina vai sim cair em 2024. E isso já era esperado. Na verdade, o próprio FMI foi mais cruel em suas previsões do que a citada comissão da ONU, cravando uma contração de 2,8% na economia dos hermanos. Só que há um motivo muito claro e que explica bem essa queda toda no PIB da Argentina: o país está passando por um necessário período de recuperação econômica.
As medidas tomadas por Javier Milei passam, invariavelmente, pela correção de muitas distorções causadas pelos governos anteriores. Lembre-se de que o PIB leva em consideração gastos estatais, e grande parte do PIB argentino de anos anteriores foi artificialmente inflado justamente por esses gastos. Milei assumiu o seu mandato disposto a mudar esse cenário, e ele tem feito isso. Cortou ministérios, demitiu dezenas de milhares de funcionários públicos, congelou salários e obras públicas; enfim, reduziu o papel do estado na economia. Isso, por si só, seria suficiente para derrubar o PIB do país.
Mas a coisa não para por aí: a economia argentina estava contaminada pela interferência estatal. Incontáveis empresas dependiam de subsídios do governo para continuar operando. Agora, essa torneira secou, e necessárias correções no mercado empresarial levarão à redução nas operações de muitas empresas. Isso também vai impactar negativamente o PIB, este ano.
Acontece que a economia argentina já dá alguns sinais de recuperação, sinais estes que tendem a se tornar ainda mais fortes nos próximos meses. E isso, por sua vez, vai elevar o PIB do país nos próximos anos. O próprio FMI prevê que, em 2025, a Argentina terá um crescimento econômico de 5%. Esse percentual impressionante é explicado também, é claro, pelo segundo argumento deste vídeo. Ainda assim, é bem provável que vejamos, em 2025, previsões muito mais favoráveis para a Argentina de Milei, do que para a Venezuela de Maduro ‒ ou quem quer que esteja no poder até lá, uma vez que, supostamente, este é um ano eleitoral.
A diferença crucial entre os dois casos está no longo prazo. A Argentina tem feito a lição de casa direitinho, apostando no que é correto, no que é duradouro. E isso, na prática, vai se refletir em uma população mais rica, que é o que realmente importa. A Venezuela, por sua vez, se afunda cada vez mais no socialismo e no controle estatal sobre sua população. E isso, no longo prazo, vai representar um empobrecimento generalizado de um povo já completamente depauperado. Pense que, apesar de dois anos seguidos de crescimento econômico no padrão chinês na Venezuela, 97% dos 70 mil refugiados que entraram no Brasil em 2023 vieram desse país. Do que eles estão fugindo? Pois é.
Não se deixe enganar pelos dados do PIB. Eles são propositalmente enganosos. Em primeiro lugar, por misturarem alhos com bugalhos, ou melhor, economia real com gasto estatal. E, em segundo lugar, pelos percentuais pintarem uma realidade não observável na prática. Os números podem até enganar, mas nossos olhos, não. E o que temos visto é a Venezuela se embrenhando cada vez mais em seu caminho autoritário, enquanto que a Argentina de Milei segue apostando na liberdade. No fim das contas, nós sabemos bem aonde esses caminhos vão dar.
https://www.cepal.org/sites/default/files/pr/files/tabela_projecoes_pib_balancopreliminar2023-port.pdf
https://www.poder360.com.br/economia/pib-do-brasil-cresce-29-em-2023/
https://oantagonista.com.br/brasil/explode-o-numero-de-refugiados-no-brasil-com-venezuelanos-e-cubanos/#google_vignette