A essa altura do jogo político, nem um pacto com o Diabo conseguirá salvar a esquerda brasileira nas eleições de 2026.
No jogo político, algumas declarações parecem inofensivas à primeira vista, mas carregam um peso simbólico enorme. Foi exatamente isso que aconteceu quando o presidente Lula reafirmou uma antiga fala de Dilma Rousseff: “Faremos o diabo para ganhar as eleições”. A frase não é apenas uma lembrança do passado turbulento do PT, mas também um alerta sobre o que pode estar por vir. O histórico recente mostra que o partido nunca teve receio de usar estratégias agressivas para vencer disputas eleitorais, mesmo que isso significasse lançar mão de táticas questionáveis.
Os segmentos da base, que incluem liberais sociais, progressistas moderados, empreendedores individuais e eleitores que votaram no PT por rejeitarem o bolsonarismo, já expressam insatisfação há vários meses.
A base eleitoral de Lula vem desabando em meio a promessas de campanha não cumpridas. O governo prometeu não acabar com a isenção nas comprinhas do exterior, mas nos entregou remessa conforme. Prometeu fartura na mesa do brasileiro, mas entregou preços disparando e o café sendo item de luxo. Até a tão prometida picanha agora tem o maior preço dos últimos 18 anos. Todas essas ações impactam diretamente o eleitor que votou em Lula, mas não por motivos ideológicos. O que resta ao petismo é encontrar bodes expiatórios, como a narrativa das fake news para tentar regular a internet, e a hipótese de um ataque financeiro vindo do exterior para desvalorizar o real.
Na verdade, o real motivo para o desespero dentro do governo petista se trata da impossibilidade de uma reeleição de Lula. Mesmo que o "molusco" queira concorrer, suas chances são mínimas. Com a sua cambaleante popularidade, as táticas típicas do PT não surtirão efeito dessa vez como funcionaram em eleições passadas.
Em 2014, por exemplo, a campanha de Dilma Rousseff foi marcada por uma guerra suja de narrativas e mentiras contra Aécio Neves, alimentando um medo infundado sobre um suposto fim dos programas sociais. É claro que, tratando-se de uma eleição envolvendo o PT, compras de votos também seriam parte da estratégia para ganhar nas urnas. Em 2022, Lula se beneficiou do apoio das elites insatisfeitas com Bolsonaro, com destaque para sua aliança com setores do judiciário e da mídia para conquistar a vitória no pleito. É muito claro que o PT sempre “fez o diabo para ganhar as eleições”, mas agora, mesmo a dois anos do pleito, o desespero do PT acerca de sua elegibilidade já se faz evidente. O motivo? A realidade bateu à porta: Lula não tem mais condições de ser candidato.
Os números não mentem. A aprovação de Lula despencou 11 pontos percentuais, chegando a apenas 24%, enquanto a reprovação subiu para 41%. No Nordeste, sua antiga fortaleza eleitoral, a aprovação caiu de 49% para 33%. Entre os mais pobres, que sempre foram sua base de apoio, os índices derreteram de 44% para 29%. Para efeito de comparação, no mesmo período de governo, Bolsonaro tinha uma aprovação de 31% e uma reprovação de 40%, números melhores que os de Lula.
Lula se encontra em uma situação trágica. Ao final de seu segundo mandato em 2010, graças ao seu populismo e a se aproveitar dos bons ventos do boom das commodities, sua aprovação estava na faixa dos 80%. Antes o presidente mais aprovado da história, hoje o "molusco" amargura sua decadência, indo de uma das pessoas mais amadas para a mais odiada do país.
O PT sabe muito bem o que esses números significam: se Lula concorrer, a derrota será humilhante. E não é apenas um problema eleitoral; é uma questão de sobrevivência política para o partido, já que o desgaste de Lula está arrastando toda a esquerda para o buraco. Lula e o PT sempre lutaram para ter o protagonismo absoluto no cenário da esquerda brasileira, eliminando qualquer outro nome que surgisse para ofuscar o "painho". O sucesso do PT nesta empreitada o possibilitou ter esse tão sonhado protagonismo, às custas de deixar a esquerda sem um nome claro para 2026. Essa mesma máquina de propaganda petista, que outrora era implacável em fabricar narrativas e manter a supremacia do PT e o controle da opinião pública, agora enfrenta uma resistência cada vez maior. A internet pulverizou o monopólio da informação, e a população está menos suscetível à velha ladainha petista reverberada pela mídia tradicional.
Diante desse cenário caótico, a grande preocupação é até onde o PT estaria disposto a ir para lutar pela sua permanência no poder. Considerando o histórico autoritário do partido e da esquerda em geral, já se especula que o partido pode recorrer a medidas ainda mais drásticas para se agarrar ao poder. Regular o discurso online, aparelhar ainda mais o STF e outras instituições para barrar a oposição, a fim de sufocar adversários políticos, podem ser os últimos golpes de uma besta ferida, mas não abatida. Além disso, há o temor de que o governo intensifique práticas como selar alianças com regimes autoritários. O governo Lula se esforçou muito para erodir a boa imagem que o Brasil tinha no exterior, ao defender abertamente ditaduras como Rússia e Irã, enquanto atacava países vítimas dos mesmos regimes, como Israel e Ucrânia. Não podemos esquecer, é claro, do regime venezuelano, o mais próximo do governo Lula, que compartilha não apenas a proximidade geográfica, mas também a proximidade ideológica, com ambos membros do Foro de São Paulo. Neste cenário de intenso desconforto com as próximas eleições, não é difícil acreditar que essa natureza autoritária da esquerda se manifeste em uma tentativa de se agarrar ao poder na iminência do retorno da direita ao Planalto. O PT já está em campanha desde o primeiro dia de governo, voltando a se aliar com grupos de interesse e empresas envolvidas em escândalos de corrupção, às quais adicionou ao círculo de privilégios do governo. Contratos bilionários estão sendo renegociados, dívidas sendo perdoadas e a velha turma que dominou os anos dourados petistas está assumindo posições estratégicas. Tudo isso aponta para um objetivo claro: montar um esquema robusto de sustentação política e financeira para a eleição de 2026.
Apesar dos esforços e da insistência de Lula em concorrer mais uma vez, os próprios aliados de Lula já perceberam que a situação é insustentável. No alto escalão do partido, discute-se abertamente uma maneira de retirar Lula da disputa sem parecer uma derrota para a esquerda. A estratégia mais provável seria alegar problemas de saúde para justificar sua saída e tentar transferir seu capital político para outro nome. O PT parece apenas adotar o roteiro que já foi testado nos Estados Unidos. Em julho de 2024, Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição após enfrentar uma crise de popularidade e ter sua capacidade cognitiva e governabilidade questionadas. O Partido Democrata, tentando salvar o que restava, lançou Kamala Harris como candidata, colhendo uma derrota retumbante para o republicano Donald Trump.
O PT teme que a história se repita no Brasil, visto que o paralelo entre Lula e Biden é inevitável. Ambos foram eleitos sob a narrativa de serem “o mal menor” contra adversários de direita, ambos enfrentaram crises de popularidade devastadoras e ambos se tornaram um peso para seus partidos. Se Lula realmente desistir da disputa, o PT se verá diante do mesmo destino trilhado pelos democratas: lançar um substituto com pouca viabilidade eleitoral e assistir à ascensão da direita.
Com Lula sendo carta definitivamente fora do baralho, as alternativas petistas não são nada animadoras. Fernando Haddad, que já sofreu uma derrota acachapante para Bolsonaro em 2018, queimou de vez sua imagem após o escândalo do Pix e sua gestão econômica desastrosa. Tornando-se uma personalidade infame no Brasil, ao viralizar sendo alvo de memes sobre os aumentos de impostos promovidos pelo mesmo. Outro nome seria Guilherme Boulos, do PSOL. Mesmo sendo um grande nome da esquerda, Boulos provou ser incapaz de vencer uma eleição municipal, tentando se eleger para a prefeitura de São Paulo e perdendo humilhantemente para Ricardo Nunes. Camilo Santana, ex-governador do Ceará e atual ministro da educação, também foi citado como possível alternativa, embora tenha um perfil mais discreto e não tenha o peso político necessário para carregar a esquerda nas costas.
Como vemos no cenário atual, o PT foi muito eficiente em monopolizar o discurso de esquerda, mas agora o que antes foi uma benção que garantiu mais de uma década no poder se transformou em uma maldição. O partido ainda pode recorrer a um nome fora da esquerda tradicional, como Geraldo Alckmin, que seria vendido mais uma vez como uma peça que conectaria o PT com o centrão, além de apelar ao eleitor mais moderado para tentar minimizar os danos ao PT.
Há, inclusive, aqueles que defendem que o partido poderia tomar uma decisão ainda mais radical: antecipar a saída de Lula da presidência, permitindo que Alckmin assuma antes das eleições para tentar conter a sangria petista. Essa jogada poderia não apenas reduzir o desgaste do PT, mas também daria tempo para Alckmin construir sua própria candidatura sem a sombra do fracasso lulista.
Independente da maneira que escolherem para enfrentar o problema, o desespero do PT é evidente, já que a esquerda sabe que está em declínio no Brasil. A população já não cai mais nas promessas vazias de um partido que, ao longo de mais de uma década no poder, apenas ampliou impostos, perseguiu adversários políticos e distribuiu migalhas aos mais pobres enquanto enriquecia seus aliados.
As coincidências entre Brasil e Estados Unidos são gritantes e reforçam a hipótese de que a política americana é um reflexo antecipado do big picture da política tupiniquim. Assim como Trump retornou à Casa Branca após a desistência de Biden, Bolsonaro ou um candidato de direita tem um caminho claro para reassumir o Palácio do Planalto em 2026.
O PT está numa encruzilhada: insistir na candidatura inviável de Lula e sofrer uma derrota humilhante ou tentar emplacar um substituto e, ainda assim, perder e ter que enfrentar o inevitável destino da irrelevância. De qualquer maneira, o ciclo da esquerda no poder chegou ao fim. Estamos presenciando o nascimento de uma hegemonia direitista na política nacional para as próximas décadas. Assim como o PT governou o país por quase 15 anos, a direita terá agora a sua oportunidade de dirigir o país pelos próximos anos. A volta da direita em 2026 não é uma possibilidade remota, mas um fato praticamente consumado. “We are so back.”
https://revistaoeste.com/imprensa/lulopetismo-vai-fazer-o-diabo-para-ganhar-proxima-eleicao-avalia-estadao/
https://www.cartacapital.com.br/politica/aprovacao-do-governo-lula-cai-a-24-aponta-datafolha/
https://pleno.news/economia/picanha-fica-mais-cara-e-atinge-maior-valor-dos-ultimos-18-anos.html#:~:text=O%20pre%C3%A7o%20da%20picanha%20em,para%20R%24%2043%2C00.
https://g1.globo.com/politica/noticia/2010/12/popularidade-de-lula-bate-recorde-e-chega-87-diz-ibope.html
https://oglobo.globo.com/blogs/bela-megale/post/2025/02/o-cenario-em-que-lula-admite-ficar-fora-da-eleicao-de-2026.ghtml