JAVIER MILEI quer transformar IMPRESSÃO DE DINHEIRO em CRIME CONTRA A HUMANIDADE

A ideia proposta por Javier Milei é genial, mas ela não é original. Economistas escolásticos já defendiam isso há quase 800 anos!

Javier Milei roubou a cena, mais uma vez - e isso já está virando notícia cotidiana por aqui. O mais recente caso aconteceu em um discurso proferido em Madri, na sede do governo regional - ocasião em que o presidente libertário recebeu, das mãos da governadora Isabel Díaz Ayuso, uma condecoração. Sim, Milei parece estar fazendo sucesso com as senhoras conservadoras europeias; talvez seja por conta de seu cabelo charmoso.

Voltando ao discurso em questão: o presidente argentino advertiu seus ouvintes espanhóis a respeito dos riscos do socialismo, ao mesmo tempo, em que afirmou, categoricamente, a única causa da inflação é a emissão de dinheiro”. Isso porque, segundo o libertário, a impressão de dinheiro pelo governo expande a disponibilidade de moeda na economia, aumentando a demanda por produtos e, consequentemente, elevando os preços. Porém, Milei foi ainda mais longe, e afirmou seu desejo de transformar o ato de emitir nova moeda em crime contra a humanidade, na Argentina.

Citando o presidente argentino, palavra por palavra: “Vamos enviar uma lei na qual emitir dinheiro seja um crime e que esse crime seja contra a humanidade. E se emitir dinheiro, vão ser presos o presidente da nação, o ministro da Economia, o presidente do Banco Central, toda a diretoria e deputados e senadores que aprovem essas medidas”. Segundo Milei, contudo, essa medida só será tomada quando o Banco Central da Argentina estiver plenamente saneado - algo que é um dos seus principais objetivos de governo.

Essa ideia não chega a ser uma novidade no governo Milei: no seu discurso por ocasião da abertura do ano legislativo, no Congresso da Argentina, no dia 1º de março, o presidente já havia dito algo semelhante. Javier Milei afirmou que enviaria, em algum momento, um projeto de lei para o Parlamento do país, visando criminalizar o financiamento da dívida pública com emissão de moeda. Segundo Milei, essa prática seria moralmente insustentável e também criminosa.

Como país signatário do Estatuto de Roma, a Argentina prevê sérias punições para crimes contra a humanidade - que podem chegar à prisão perpétua. Ainda assim, é importante frisar que não dá para ter certeza se esse discurso do Milei realmente vai se reverter em ações práticas - no sentido de ser apresentado como projeto de lei ao Congresso para, eventualmente, ser aprovado. Talvez, o presidente libertário esteja apenas investindo em uma retórica anti-inflacionária, naquele seu estilo que nós conhecemos bem. Ainda assim, suas falas são de extrema importância.

Desde o início do seu mandato, o presidente argentino tem ultrapassado as barreiras do mero discurso econômico - Javier Milei está, de fato, travando uma verdadeira guerra cultural. E isso é muito importante! A esquerda dominou o debate público durante décadas a fio, e isso transformou a mentalidade do povo latino-americano - para pior, é claro. Por isso, é fundamental oferecer a esse povo outra forma de ver o mundo, por meio das corretas lentes da mais ortodoxa teoria econômica que temos à disposição.

Nesse sentido, é importante fazer as coisas retomarem o seu significado original, que foi pervertido pela mídia esquerdista. Pense que, no Brasil, se fala de “inflação do arroz” ou “inflação dos aluguéis”, algo que é uma verdadeira insanidade. Afinal de contas, até poucas décadas atrás, chamava-se de inflação o que ela realmente é: o aumento da base monetária, ou seja, da quantidade de dinheiro em circulação, fenômeno causado pelo estado.

Como bem disse Milei, em seu discurso, a inflação tem por resultado mais visível o aumento de preços, de forma geral, na economia. Por isso, passou-se a confundir o sintoma com sua causa - em outras palavras, chamar de inflação a subida contínua de todos os preços, em determinado período de tempo. Só que a coisa ficou tão bizarra, que mesmo aumentos pontuais e sazonais, explicados por flutuações na oferta e na demanda, são também chamados de inflação. E quanto ao aumento da base monetária? Bem, parece que ninguém liga mais para isso, hoje em dia.

Portanto, Javier Milei está fazendo o que é certo, trazendo temas importantes para o debate público. E, ainda que sua ideia de criminalizar a emissão de moeda não passe de puro recurso retórico, ela cumpre seu papel de lançar luz sobre uma realidade mais do que importante - as origens da inflação. Ainda assim, não podemos afirmar que o presidente argentino foi inovador ao propor o tratamento da inflação como crime. Na verdade, Milei está atrasado uns 800 anos, porque essas ideias surgiram, lá atrás, com os padres escolásticos das Idades Média e Moderna.

Pense, por exemplo, em Nicolau de Oresme. Esse frade dominicano escreveu, em 1355, seu “Pequeno Tratado da Primeira Invenção das Moedas”, no qual afirma que “a alteração da moeda [...] contém nela tanta fraude e falsidade que não compete ao príncipe [entenda-se: ao governante] fazê-la”. Isso, por sua vez, causaria inevitável prejuízo à comunidade - ou seja, a todo o país. Nesse sentido, Nicolau de Oresme evoca o pensamento de Aristóteles, afirmando que um príncipe que agisse dessa forma se tornaria, inevitavelmente, um tirano - uma atitude não digna de um rei. Para o filósofo grego, seria lícito ao povo resistir, como necessário, a um tirano.

Nicolau de Oresme ainda afirma que, se um príncipe pudesse depreciar a moeda, ele poderia fazer tudo - inclusive roubar os bens, a comida e a roupa de seus súditos, - porque não haveria diferença prática entre uma coisa e outra. Aquele que obtém para si ganhos por meio da falsificação da moeda, ainda segundo o autor, estaria opondo-se “a Deus e à natureza”. Veja como as atitudes condenadas por esse frade católico, no século 14, são tratadas com naturalidade nos dias atuais!

Saltando no tempo: no século 16, o escolástico jesuíta Juan de Mariana escreveu sua obra “Tratado Sobre a Alteração da Moeda” - o clássico “De monetae mutatione”, em seu título original. Por sinal, nós já citamos esse importante escolástico aqui no canal, no vídeo: “O ouro das Américas arruinou a Europa” - link na descrição. Na citada obra, Juan de Mariana defende o ponto de que nunca há desvalorização da moeda que não se reflita em prejuízo para a sociedade.

O autor escolástico afirma que não está entre os benefícios do rei usufruir dos bens de seus súditos, comparando essa atitude às ações da bíblica Jezabel, que roubou a vinha de Nabot. Por sinal, essa rainha israelita encerrou sua história sendo defenestrada e comida pelos cães. Por outro lado, Juan de Mariana afirma que o rei só pode impor novos tributos ao povo se esse mesmo povo, em primeiro lugar, os aceitar. Qualquer coisa além disso seria a mais pura tirania.

Para o jesuíta, ao rei não é permitido subtrair os bens privados de seu súdito, só que “isto ocorre toda a vez que se desvaloriza a moeda: pois dá-se por maior preço o que vale menos”. Pois é: até hoje tem gente que acha que a inflação não é um imposto escondido, dissimulado. Veja, porém, que, por outro lado, os autores escolásticos acreditavam, de maneira convicta, que falsificar a moeda seria um grave crime por parte dos príncipes. É curioso ver como, na época dos monarcas que governavam de forma absoluta, havia um senso de moralidade superior ao que vemos nas atuais repúblicas - onde presidentes moram em palácios e se consideram deuses na terra.

Falar sobre os estudiosos escolásticos é algo muito positivo, porque a leitura de suas obras coloca abaixo uma série de falácias que aprendemos na escola e na grande mídia - especialmente do ponto de vista econômico. Em primeiro lugar, chega a ser uma ofensa chamar o período em que tais obras brilhantes foram escritas de “Idade das Trevas”. Em segundo lugar, aquela conversa mole do seu professor de História, que afirmou que o capitalismo surgiu só em finais do século 18, cai por terra completamente. Os autores escolásticos trataram de todos os temas econômicos importantes - tais como a citada inflação, a lei da oferta e da demanda, as características do dinheiro - muitos séculos antes da Revolução Industrial acontecer.

O conhecimento econômico desses homens é formidável, até mesmo para os dias de hoje - quando as ideias econômicas mais malucas afloram, por toda parte. Não é à toa, portanto, que grande parte das ideias fundamentais da Escola Austríaca de Economia foram adaptadas dos pensamentos da Escola de Salamanca, centro do pensamento escolástico espanhol. Mais formidável do que isso, porém, talvez seja o fato de vermos um presidente latino-americano fazendo eco a conhecimentos econômicos tão importantes, mas tristemente esquecidos.

Javier Milei deu mais um passo no sentido de trazer luz para o debate econômico e político, tratando a inflação - ou seja, a impressão de dinheiro - como ela realmente é: uma fraude, uma falsificação que prejudica toda a população. Tratar a emissão de moeda como um crime deveria ser o básico do básico; e, ainda que o discurso de Milei fique apenas na retórica, o seu recado está dado. Seu governo assumiu e tem mantido o compromisso de acabar com a inflação simplesmente desligando as impressoras de dinheiro. E é justamente isso que vai fazer a Argentina se tornar, mais uma vez, um país rico - porque seu povo não será mais assaltado pelos seus vis governantes, por meio da inflação. Enfim, como adora dizer Milei: Viva la Liberta, carajo!

Referências:

https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/milei-comunidade-madri-governo-socialista-espanha/

Discurso de Milei em 1º de março:
https://www.ellitoral.com/politica/javier-milei-discurso-completo-apertura-sesiones-ordinarias-congreso-video-texto_0_3LN8VcycBh.html

Tratado Sobre a Alteração da Moeda:
https://maisliberdade.pt/site/assets/files/3519/tratado_sobre_a_alteracao_da_moeda.pdf

O ouro das Américas arruinou a Europa:
https://www.youtube.com/watch?v=iVFJT1ioUAs