Entenda como o estado causou um efeito que reduz o tamanho dos produtos sem, contudo, reduzir os seus preços.
Existe um fenômeno que tem tomado conta das prateleiras de supermercado e de outras lojas de varejo. Esse curioso efeito está por toda parte - e você, certamente, já o percebeu, principalmente se você costuma fazer compras básicas com frequência. Parece que os produtos estão cada vez menores, os pacotes estão cada vez mais vazios e a composição de determinados itens se torna cada vez mais diluída. Os preços, porém, continuam os mesmos. E isso pode ser observado em praticamente qualquer item destinado ao consumo humano.
Na última Páscoa, por exemplo, é bem provável que você tenha que ter lidado com uma série de frustrações alimentícias. Ovos de Páscoa menores, caixas de bombons cada vez mais vazias e barras de chocolate que encolheram ainda mais - esses são fenômenos que todos nós já observamos há muito anos. Mas a coisa não para por aí: o pacote de Ruffles está ainda mais cheio de ar. E, nos momentos de aperto, você descobre que aquele rolo de papel higiênico, que antes tinha 30 metros, agora tem apenas 20.
As latas de óleo têm 100ml a menos do que no passado. Os sachês de molho de tomate estão 30g mais leves - e isso porque esse produto já é uma piora do produto original, o extrato de tomate. Aliás, o mercado tem sido tomado por “alternativas” com uma composição mais vagabunda que os produtos originais - como, por exemplo, a famigerada “mistura láctea”, que é uma alternativa ao leite condensado. Nesses casos, o tamanho pode ser o mesmo, mas a qualidade original daquele item foi severamente depreciada.
Independentemente do produto, esse fenômeno é tão corriqueiro que já ganhou até um nome pomposo: shrinkflation, ou reduflação. Esse epíteto significa, basicamente, que os preços foram mantidos, mas os produtos são de pior qualidade, ou então encolheram em peso e tamanho. Mas, afinal de contas, por que esse tipo de coisa acontece? O que explica o fenômeno da reduflação? A resposta básica para essa pergunta é bastante simples, mas ela nos dá margem para um interessante debate a respeito de preços e do valor do dinheiro na economia.
Basicamente, as empresas preferem reduzir os produtos para não ter que aumentar seu preço - por conta do efeito psicológico que essa segunda alternativa causa no consumidor. Na prática, é claro, os preços estão, sim, subindo; basta fazer o cálculo por unidade para se chegar a essa certeza. Se, antes, uma barra de chocolate de 120 gramas custava R$9,00, isso significava que cada grama de chocolate custava 7,5 centavos. Agora, porém, a mesma barra tem 90 gramas; mas ela continua custando os mesmos R$ 9 - o que significa que o grama de chocolate agora custa 10 centavos. É um aumento de preços sutil, mas está lá, para quem quiser ver.
Um especialista da área afirmou que os consumidores “percebem mais os aumentos de preços do que as reduções de tamanho”. Ou seja, a reduflação representa um aumento de preços menos doloroso. É claro que as empresas não podem reduzir os produtos para sempre - afinal de contas, daqui a algum tempo, estaremos comprando apenas as embalagens vazias. A estratégia, então, é lançar novas versões do produto - com tamanho e preços maiores, para reiniciar todo o ciclo da reduflação.
Isso tem sido feito, por exemplo, com os já citados rolos de papel higiênico. Os rolos “convencionais” estão ficando cada vez menores. Então, as marcas começaram a lançar as versões chamadas de “duplos”, “triplos”, e até “megas”. Só que como o fenômeno da diminuição das unidades está cada vez mais veloz, os rolos “super mega”, da fabricante Charmin, por exemplo, já estão ficando menores…
Que esse fenômeno existe, todos nós o sabemos. Mas qual é a real causa dessa situação? Obviamente, esquerdistas e estatistas, no geral, vão afirmar que esse fenômeno é culpa exclusiva dos capitalistas malvadões - esses degenerados que ficam diminuindo o tamanho dos produtos para lucrar cada vez mais! Porém, todos nós, que temos um mínimo de conhecimento econômico, sabemos que a culpa desse efeito é, como em tantos outros casos, do estado.
A reduflação é apenas mais um subproduto da inflação. Para uma definição mais detalhada a respeito do que esse termo significa, recomendamos o vídeo “Por que é importante saber o que é inflação”, no canal AncapSU Classic - link na descrição. Em resumo, ao contrário do que a grande mídia sempre pontua - e os números estatais reforçam - a inflação não é o aumento generalizado de preços na economia. Esse é apenas seu efeito mais perceptível.
A inflação é o aumento da base monetária. Ou seja, trata-se do governo imprimindo mais dinheiro - seja fisicamente, seja através de meios eletrônicos. Esse aumento na quantidade de dinheiro em circulação na economia faz o seu preço se depreciar e, em contrapartida, tudo acaba ficando mais caro. Imagine que o dinheiro é a representação monetária do valor de todas as coisas. Se a quantidade de moeda em circulação aumentou, sem que houvesse um aumento da produção, isso implica dizer que, agora, os produtos valem mais nessa moeda. Ou, olhando a coisa sob outro aspecto: esse dinheiro agora vale menos.
É justamente esse aumento da base monetária que tem feito tudo ficar mais caro: produtos de supermercado, automóveis, financiamentos, energia elétrica… Acredite ou não, até o jogo do bicho sofre com a inflação! E, agora, também observamos outra consequência dessa impressão de dinheiro: a redução no tamanho dos produtos, para disfarçar a desvalorização da moeda que os compra.
Aliás, a reduflação é uma excelente metáfora para representar a perda do poder de compra do nosso dinheiro. Assim como os produtos vão encolhendo, nosso poder aquisitivo, em moeda estatal, também diminuiu drasticamente no longo prazo. Ao longo dos anos, o real - e qualquer outra moeda, diga-se de passagem - foi perdendo seu valor. Atualmente, o real já perdeu 87% do seu valor original. Lá atrás, em 1998, você conseguia facilmente encher um carrinho de supermercado com 100 reais. Hoje, essa mesma grana não te permite, sequer, sair da parte do açougue.
Ao longo de todos esses anos, os preços subiram e as embalagens foram ficando menores e mais vazias. Porém, ao contrário do que a mídia supostamente especializada e os economistas mainstream afirmam, a culpa disso não é do empresário malvadão, ou do lojista. O estado é o único culpado nessa história, porque ele é o único que possui o poder de imprimir mais dinheiro. O que o capitalista faz é tentar burlar o fenômeno inflacionário, partindo para iniciativas que vão tentar disfarçar a destruição do poder aquisitivo de seus clientes, que foi causada pelo estado.
É importante frisar, por óbvio, que esse não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Afinal de contas, como o termo original em inglês sugere, a redução no tamanho e na qualidade dos produtos tem sido observada em todo o mundo. A causa disso é bastante simples: o fenômeno inflacionário também é mundial, e todos os países, em maior ou menor grau, passam por isso. Especialmente nos últimos anos, a velocidade com que os governos imprimem dinheiro alcançou um patamar nunca antes visto.
Uma série de desastradas medidas estatais - que incluem aumento dos gastos públicos, manipulação das taxas de juros e fechamento da economia durante a crise sanitária - levaram a essa situação. Agora, todos nós somos obrigados a comprar cada vez menos produtos, com a mesma quantidade de dinheiro. Não são só as embalagens de salgadinhos que estão cada vez mais vazias: é o nosso poder aquisitivo que está se esvaziando, junto com o valor da nossa moeda.
Infelizmente, a tendência é que continuemos vendo, aqui no Brasil, e também no restante do mundo, o fenômeno da reduflação na maior parte dos itens de supermercado - além de o observarmos ainda em outras áreas. Para o consumidor padrão, o aumento de preços vai continuar maquiado - mas algo estranho estará acontecendo, e as pessoas tendem a perceber isso em algum momento. Infelizmente, para grande parte da população, ainda não é fácil compreender o que realmente causa esse aumento de preços, e como, mais uma vez, o estado tem culpa no cartório. Sim, é por culpa exclusiva do estado que nossas caixas de bombons estão cada vez mais vazias.
https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/real-29-anos-quanto-vale-100-hoje/
https://www.youtube.com/watch?v=lQDyJeTOPNw&pp=ygUvcG9yIHF1ZSDDqSBpbXBvcnRhbnRlIHNhYmVyIG8gcXVlIMOpIGluZmxhw6fDo28%3D