Se você visse Atlas, o gigante condenado a sustentar o mundo nas costas, usando suas últimas forças para não deixá-lo cair, o que você lhe diria?
Se você está aqui, talvez você já tenha se perguntado: “o que aconteceria com o mundo se as pessoas levassem sua moralidade até as últimas consequências?" Coletivismo, individualismo, altruísmo, egoísmo, estatismo ou liberdade. Quais dessas abordagens podem ser sustentadas de forma racional? Quais delas não entrariam em contradições? Ayn Rand, a filósofa russa, em seu magnum opus “A Revolta de Atlas”, nos proporcionou suas respostas.
O livro, publicado em 1957, conta a história da executiva Dagny Taggart, que está determinada a manter sua ferrovia operando apesar de um governo regulador cada vez mais intervencionista.
O romance se passa em uma época distópica dos Estados Unidos (semelhante à que vemos hoje), na qual empresários, industriais e profissionais competentes são cada vez mais escassos. Por outro lado, há excesso de políticos, burocratas e comerciantes, especializados em negociar favores ao invés de bens, ou seja, pessoas que vivem às custas dos indivíduos produtivos.
Aos poucos, as pessoas mais capazes do país vão desaparecendo misteriosamente, e a sociedade, que sempre exigiu serviços como se fossem direitos, não encontra mais quem possa fornecê-los.
A narrativa também conta com personagens memoráveis como Henry Rearden, dono da siderúrgica Rearden; Francisco D'anconia, herdeiro de uma mineradora de cobre; e Ragnar Danneskjold, pirata e contrabandista.
A obra de ficção aborda temas profundos como economia e moralidade, e também faz críticas contundentes, não só ao estatismo e o coletivismo, mas também ao relativismo.
O livro traz questionamentos como: “por que algumas pessoas podem emitir opiniões tão incertas sobre o mundo físico enquanto fazem afirmações tão categóricas sobre os homens?”
E a obra também nos traz respostas diretas como a de Rearden, que resumem o que a própria Ayn Rand pensava sobre o tema:
“-Ora, menino, vá tentar fundir uma tonelada de aço sem princípios rígidos, com base nas contingências do momento.”
E assim, por meio de seus personagens, a autora expressa sua filosofia objetivista e seus ideais.
Em um dos discursos ela escreveu:
“A doutrina segundo a qual os “direitos humanos” são superiores aos “direitos de propriedade” simplesmente significa que alguns seres humanos têm o direito de transformar os outros em propriedade.” Aqui, devemos lembrar que o termo “direitos humanos” significa direito a ter acesso a bens e serviços custeados por terceiros.
Em outro momento, ela narra:
“Era inútil discutir, pensou ela, e se perguntou como é que havia pessoas que nem refutavam uma argumentação nem a aceitavam.”
O livro também faz críticas ao keynesianismo, teoria em voga na época de Rand e que ainda nos assombra nos dias de hoje. Em duas passagens, a autora coloca na boca de um dos antagonistas a famosa afirmação feita por Keynes: “A longo prazo, todos nós estaremos mortos.” Mostrando o pensamento imediatista, imoral e insustentável de quem defende essas ideias.
Esses hipócritas são frequentemente retratados em A Revolta de Atlas, como seres flácidos e disformes (quando não eram fisicamente assim, ao menos passavam essa impressão). Em contrapartida, inúmeras analogias são utilizadas para simbolizar a retidão de caráter e de princípios dos nossos heróis, como as linhas retas dos trilhos de trem, e a solidez confiável do metal.
Como podemos ver, essa grande obra é mais que um romance qualquer. O libertário Murray Rothbard, contemporâneo de Ayn Rand, enviou uma carta a ela assim que concluiu a leitura de seu livro. Nela, Rothbard afirma que “A Revolta de Atlas é o maior romance já escrito” e que aprendeu a admirar esse gênero literário depois de lê-lo. A carta de Rothbard contendo muitos outros elogios está disponível na internet e vale a pena ser conferida.
E de fato, a Revolta de Atlas é um feixe de lucidez, uma fonte de luz cada vez mais rara na escuridão que se propaga, principalmente no meio cultural.
Em quais outras obras poderíamos ler a afirmação: “Não desprezar os vícios dos homens é um ato de falsificação moral, e não admirar as virtudes humanas é um ato de peculato.”
Ou então: “aqueles que sentem comiseração pela culpa, não sentem nenhuma pela inocência.”
A narrativa também traz uma pequena anedota de uma fábrica onde os princípios marxistas foram postos em prática. Nela, como ordenado, os funcionários trabalhavam de acordo com suas capacidades, e eram remunerados de acordo com suas necessidades.
Não é preciso dizer o resultado: as necessidades eram cada vez mais numerosas, e as capacidades, cada vez mais escassas.
Segundo o narrador dessa história:
“A vida inteira nos ensinaram que o lucro e a competição tinham um efeito nefasto, que era terrível um competir com o outro para ver quem era o melhor.”
“Pois deviam ver o que acontecia quando um competia com o outro para ver quem era o pior.”
Na obra também há críticas aos jornais tradicionais e sua forma de falsear a realidade em cumplicidade com o governo. Em determinado momento, Dagny reflete como é absurdo saber das notícias apenas por meio de negativas. Como se os fatos não existissem mais, e os colunistas dessem pistas referentes à realidade com as notícias que tentavam negá-la.
Por fim, a Revolta de Atlas é uma obra monumental, difícil de reduzir a um vídeo sem spoilers. É uma ode à racionalidade, à liberdade e à vida que todo libertário deveria ler.
Se você pensa, assim como Rothbard chegou a acreditar, que um romance não pode nos apresentar nenhuma verdade, você vai se surpreender com esse livro!
Mais do que uma ficção, o livro A Revolta de Atlas é um tratado filosófico. Ele demonstra, de forma racional, que os direitos não são invenções arbitrárias da sociedade, e que os valores, escolhidos por cada um, possuem consequências impossíveis de serem ignoradas.
Ele nos mostra que, muitas vezes, o verdadeiro mal só tem poder porque as vítimas estão dispostas a validá-lo. Podemos perceber que essa afirmação explica o porquê muitas tiranias e ditadores conseguem conquistar o poder e governar durante tantos anos, iludindo tanta gente de que elas supostamente estão sendo beneficiadas por eles.
Ele defende, diferente de tudo que você lerá por aí, que o ser humano não é um animal passível de ser sacrificado. E que o indivíduo é um fim em si mesmo, e não o meio para os fins da humanidade ou de grupos que acham que sabem o que é melhor para nossa vida.
A liberdade é um valor inalienável.
Mas e então?
Se você visse Atlas, o gigante condenado a sustentar o mundo nas costas, usando suas últimas forças para não deixá-lo cair, o que você lhe diria?
Ayn Rand lhe diria “shrug”, ou, no bom português: “sacuda os ombros”.
A própria obra " A Revolta de Atlas" da editora Arqueiro.
Carta de Rothbard a Ayn Rand:
https://cdn.mises.org/21_4_3.pdf
https://objetivismo.com.br/artigo/rothbard-escreve-a-ayn-rand-sobre-a-revolta-de-atlas/