A inflação é a pior violência que existe, porque dói justamente nos mais pobres
Imagine um homem forte esmurrando um indivíduo genérico. O soco é a expressão da violência: metacarpo se chocando com mandíbula; dentes são arrancados, lábios lacerados. A dor surge como colateral para todos aqueles que o punho conseguir alcançar. Ele não discrimina, não enxerga. Para todos é oferecida a possibilidade de esquiva. Agora imagine a inflação. Perceba que ela é a violência mais desigual de que se tem notícia; é o soco do qual apenas o pobre é incapaz de se esquivar de seus efeitos.
Matéria 1: Gazeta do povo, Julho de 2022: “Uma das estratégias adotadas pela equipe econômica, desde o início do governo Jair Bolsonaro, para dar mais dinamismo à economia foi a redução de impostos. Em alguns casos, de forma temporária; em outros, definitiva.(...) O governo zerou tributos federais sobre gasolina, etanol e diesel, e articulou para a aprovação de um teto para o ICMS cobrado pelos estados.”
Matéria 2, G1, publicada em Janeiro de 2023: “Arrecadação federal soma R$ 2,21 trilhões em 2022 e bate novo recorde”.
Arthur Laffer é um economista americano que recebeu do até então presidente Donald Trump a Medalha Presidencial da Liberdade. Sua teoria, a "Curva de Laffer", ilustra a relação entre as taxas de impostos e a receita fiscal. Ela sugere que aumentar as taxas de impostos além de certo limite pode levar a uma redução na receita total, pois altas taxas podem desincentivar a produção e o trabalho, resultando em menos atividade econômica tributável. A curva destaca, portanto, que existe um ponto ideal para maximizar a receita fiscal, equilibrando a carga tributária com a atividade econômica.
Não é razoável supor que os especialistas que estão por trás da construção das políticas econômicas no Brasil no atual governo desconheçam esta teoria. Em verdade, a argumentação do presente artigo se debruça sobre o pressuposto de que tais indivíduos conhecem e entendem a curva de Laffer, sendo o objetivo, aqui, tentar entender os motivos pelos quais suas práticas sugerem o contrário.
Neste artigo, vamos demonstrar que todas as conjecturas acerca do atual governo, no que tange a área econômica, simplesmente desmoronam, por não encontrarmos assoalho firme o bastante nesta premissa básica: a vontade de fazer com que o país e sua população cresçam economicamente.
A diluição do valor da moeda é uma prática recorrente milenar, que serve a diversos fins, como financiar expedições invasoras, sustentar oligarquias no poder, reis, políticos, burocratas, sempre com a conseqüência do empobrecimento de todos. Mesmo naqueles raros casos de indivíduos que administram a emissão de moeda não serem psicopatas, eles acabam acreditando que, para que a ordem da estrutura não desmorone, é compensatório recorrer ao artifício de causar um mal pequeno a todos para justificar um bem maior.
Assim como no mito do Rei Midas, a casta que está no poder utiliza sua prerrogativa de criar dinheiro do nada. No caso real, contudo, acaba tornando todos um pouco mais pobres, ora através da emissão de mais notas, ora misturando prata ao bronze, ou outros metais menos preciosos, ou digitando números em computadores, sempre sob a justificativa da necessidade do núcleo de poder.
Um viajante do tempo, que tivesse retornando à década de 1980 aqui mesmo no Brasil, seria visto como idiota ou louco se dissesse que parte do salário do mês deveria ser guardado como forma de poupança. O processo inflacionário naquela época era tamanho que, dizem alguns, o costume brasileiro de fazer compra mensal no mercado surgiu justamente nessa época, para proteger o salário dos aumentos de preços que aconteciam do dia para a noite.
O experimento que ficou conhecido como o “experimento do marshmallow” foi conduzido na década de 1960, por Walter Mischel, psicólogo da Universidade de Stanford. Nele, crianças foram colocadas em uma sala com um marshmallow e instruídas de que se conseguissem resistir à tentação de comer o marshmallow por um curto período, receberiam dois marshmallows como recompensa. O experimento explorou a ideia de preferência temporal, que se refere à capacidade de adiar a gratificação imediata em troca de uma recompensa maior no futuro. Algumas crianças conseguiram esperar e receber as duas recompensas, enquanto outras cederam à tentação. A preferência temporal não é um determinante absoluto do sucesso futuro, havendo outros fatores como por exemplo os ambientes familiar e social, que também desempenham papéis importantes; ainda sim, estudos posteriores que acompanharam essas crianças ao longo dos anos sugeriram que as que demonstraram a capacidade de adiar a gratificação tiveram resultados mais positivos ao longo da vida, incluindo o desempenho acadêmico, saúde mental e sucesso profissional.
É perceptível que a inflação reduz diretamente a preferência temporal, que, por sua vez, é parte do que um adulto funcional necessita se seu objetivo for ter o mínimo de autonomia para exercer sua liberdade.
Em verdade, condenar uma população à condição de pobreza endêmica, lutando todos os dias pela sobrevivência, é um tipo de violência tão perversa que faltam palavras para descrevê-la. Transformá-las em animais e extirpar sua capacidade de planejar seu futuro, o futuro de seus filhos e de sua família, os transforma em escravos modernos com título de eleitor.
A cúpula que está à frente da economia do país faz isto não apenas de maneira premeditada, mas também parecem estar implementando a execução de uma estratégia com similaridades à estratégia Cloward Piven.
A estratégia Cloward-Piven, de acordo com a Wikipedia, no original em inglês, é: “uma estratégia política delineada em 1966 pelos sociólogos e ativistas políticos americanos Richard Cloward e Frances Fox Piven. É a estratégia de forçar a mudança política que conduz ao colapso social através de crises orquestradas. A ‘Estratégia Cloward-Piven’ procura acelerar a queda do capitalismo, sobrecarregando a burocracia governamental com uma enxurrada de exigências impossíveis, acumulando uma enorme dívida nacional impagável e outros métodos, como a imigração desenfreada, empurrando, assim, a sociedade para a crise e o colapso econômico, ao esmagar os Estados Unidos”. Já na Wikipédia, em português, a definição já soa muito mais enviesada.
A ideia central dessa estratégia é criar uma crise no sistema de bem-estar social por meio do aumento maciço do número de indivíduos que solicitam benefícios. Cloward e Piven acreditavam que, ao sobrecarregar o sistema de assistência social, seria possível forçar mudanças significativas nas políticas públicas e na estrutura social.
A implementação prática dessa estratégia envolveria organizar e mobilizar um grande número de pessoas para se inscreverem em programas de assistência social, até o ponto em que o sistema não seria capaz de sustentar a demanda. Isso, por sua vez, levaria a uma crise que supostamente pressionaria o governo a adotar políticas mais progressistas, ou a reformar o sistema de maneira que beneficiassem os menos favorecidos. A estratégia é polêmica e tem sido objeto de críticas e interpretações diversas. Alguns a vêem como uma abordagem eficaz para destacar e corrigir desigualdades sociais, enquanto outros a consideram uma manipulação imprudente e prejudicial dos sistemas sociais para fins escusos.
Muito provavelmente trata-se de um engodo, e o que estamos assistindo é à implementação de um modelo similar e ainda mais perverso de empobrecimento programado de toda a população, com o objetivo de, através da corrosão econômica, fragilizar o sistema até um ponto de ruptura. Como o filósofo moderno Renato Amoedo ensinou em Bitcoin Redpill: A estratégia Cloward Piven objetivava a “aumentar obrigações financeiras do governo para provocar o colapso do país e a inevitável adoção de totalitarismo”. Todos os indícios nos levam a crer que o intuito do atual governo é o de instalar sistemas similares aos de Venezuela, Nicarágua e tantas outras ditaduras espalhadas mundo afora.
Psicopatas ponerológicos sabem o que estão fazendo. Para seus vis objetivos, utilizam-se da expansão da base monetária, enriquecendo uma pequena oligarquia já rica ao custo do empobrecimento de toda a população, criando uma crise sem precedentes que abrirá espaço para um novo regime. O sonho de todo petista é, assim como na China, que o país seja um lugar de apenas um partido ‒ no caso, o deles ‒ e, para este fim, quaisquer meios se justificam.
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Cloward%E2%80%93Piven_strategy