Os segredos sobre o governo em 'The Hidden Secrets of Money'

O que a série 'The Hidden Secrets of Money', ou no português 'Segredos Escondidos do Dinheiro', tem a nos ensinar sobre dinheiro, inflação e os estágios de um governo?

A inflação, ao longo da história, tem sido uma ferramenta utilizada por governos para diversos fins desde os tempos antigos. Essa manipulação da moeda tem sido uma estratégia para cobrir gastos deficitários e manter o poder estatal, nos tornando cada vez mais pobres às custas da elite no poder. Este vídeo juntamente com os conhecimentos dessa série, que está disponível gratuitamente no YouTube, explorará a trajetória dessa prática desde a Grécia Antiga até os dias atuais. Destacaremos como os governos, muitas vezes, comprometem a estabilidade econômica em busca de interesses próprios, e como isso foi frequente na história. Nas democracias modernas, onde o gasto público é recompensado e o comprometimento com dívidas são deixados como uma responsabilidade do próximo governante, isso se torna ainda pior.


A história começa na Grécia Antiga, que enfrentava desafios financeiros devido à guerra contra Sparta, também conhecida como a guerra de Peloponeso. Alguns governantes adotaram a diluição de cobre em moedas de ouro, diminuindo assim o valor intrínseco do dinheiro em circulação. Essa estratégia, embora momentaneamente aliviasse as pressões fiscais, resultava em uma inflação que prejudicava os cidadãos comuns. Esse padrão de comprometimento da integridade da moeda para financiar despesas governamentais persistiu durante séculos, sendo comum atualmente, apenas mudando sua intensidade de país para país.


Aliás, houve dificuldades extras enfrentadas pelos gregos nessa guerra em específico, pois no decorrer do conflito, a Grécia perdeu o controle de suas minas de ouro, impossibilitando a chegada de mais desse metal precioso. Além do campo de batalha estar distante do próprio país, ocorreram diversos problemas de logística, como quantidade de comida necessária para os soldados, enfrentamento do clima, problemas de comunicação e tantos outros. É necessário lembrar que essa guerra ocorreu entre 431 e 404 antes de Cristo. Portanto, a comunicação era extremamente lenta e difícil quando comparada aos dias atuais com o avanço da internet e dos vários meios de comunicação.


Também vale salientar que em meio à guerra, a Grécia ainda precisava financiar obras públicas caras com o dinheiro do pagador de impostos, aumentando ainda mais sua necessidade de criar inflação para cobrir gastos. Tais obras tinham caráter populista, o famoso "grátis" que sai caro, pois como tudo que o governo faz é superfaturado e visa beneficiar seus associados, acaba tendo um alto custo.


Esse ciclo inflacionário não apenas afeta indivíduos, mas também cria distorções econômicas, distanciando a realidade do mercado. Essas distorções foram um grande motivo para a queda da Grécia antiga, já que os entes privados não possuem indicadores claros da economia, pois ela foi melhorada artificialmente, apenas aumentando a recessão que virá quando a "festa" populista acabar.


Os adeptos da filosofia libertária argumentam que governos deveriam ser restritos em suas intervenções monetárias. Para nós anarcocapitalistas, o estado nem deveria existir devido sua ação predatória, imoral e ineficiente. A teoria de que o mercado é mais eficiente na criação de moedas sólidas é uma pedra angular desse pensamento, já que moedas concorrendo no mercado criam um incentivo para o uso da melhor moeda. Governos, ao imprimirem dinheiro sem lastro, não apenas distorcem os sinais econômicos, mas também criam um ambiente em que decisões de gastos irresponsáveis são incentivadas, alimentando um ciclo vicioso de inflação e déficits.


Além disso, as consequências do gasto deficitário e da inflação muitas vezes recaem desproporcionalmente sobre os menos privilegiados. A perda de poder aquisitivo atinge mais duramente aqueles que não têm ativos para se proteger contra a desvalorização da moeda, os mais pobres. Enquanto pessoas ricas podem investir para se proteger, superando a inflação com ações, renda fixa e outros instrumentos financeiros, grande parte do dinheiro dos menos favorecidos economicamente vai para gastos essenciais como água, luz e comida. Como essas pessoas não tem poupança e valores investidos, não sobra dinheiro para se proteger desse mal inflacionário. Portanto, não é apenas uma questão econômica, mas também uma questão moral com aqueles que ficam à mercê do governo.


Também podemos citar Richard Cantillon, o criador da teoria do efeito Cantillon, que descreve detalhadamente como a inflação prejudica enormemente aqueles fora do sistema bancário e governamental. Em resumo, a moeda antiga misturada com cobre, ou como atualmente, o novo dinheiro imprimido, primeiro vai para as mãos dos governantes, servidores públicos e corporativistas; apenas depois indo parar nas mãos das pessoas comuns. Quando esse dinheiro chega nas mãos dos pobres, o aumento generalizado dos preços já aconteceu, tendo assim um poder aquisitivo menor do que quando estava nas mãos daqueles dentro do sistema governamental e bancário.


Porém, em um mundo cada vez mais interconectado, compreender a relação entre inflação, gastos governamentais e os princípios libertários, é crucial e cada vez mais fácil devido à informação descentralizada e distribuída. Questionar a sabedoria convencional sobre o papel do governo na gestão da moeda, e a necessidade de existir um banco central, é um passo em direção a sistemas livres e eficientes. Ao examinar o passado, podemos aprender lições valiosas sobre os perigos de comprometer a integridade da moeda em nome de objetivos políticos de curto prazo. Como disse Winston Churchill: "quanto mais fundo você olha para o passado, mais fundo você consegue ver o futuro".


Inclusive, Mike Maloney faz uma distinção entre moeda e dinheiro, sendo moeda tudo aquilo que faz parte do sistema fiat, real, dólar, resumidamente, todas as moedas fiduciárias. Enquanto o dinheiro valorizado pelas pessoas é diferente da moeda de curso forçado criada pelo estado. Além de ser portável, ou seja, fácil de carregar, duradouro por ser resistente ao tempo, divisível, pois é possível dividir em diversas frações, ele é fungível pelo valor ser o mesmo para todos. O dinheiro é valorizado por possuir escassez, e nisso podemos incluir metais preciosos como ouro e a prata e até mesmo o próprio Bitcoin, considerado por muitos como um ouro digital.


Já no segundo episódio da série, vemos a trajetória dos impérios e governos através dos estágios que culminam na transformação de uma moeda de qualidade, para uma mera quantidade de papel sem lastro. Este episódio oferece uma visão esclarecedora sobre como impérios ao longo da história seguiram um padrão previsível em sua relação com o dinheiro.


O estágio inicial é caracterizado por uma moeda respaldada por um valor intrínseco, geralmente ouro ou prata. Essa forma de dinheiro é reconhecida por sua estabilidade e aceitação universal. Impérios prosperam durante essa fase, baseando sua riqueza em algo tangível.


Porém, no segundo estágio, alguns problemas financeiros começam a se desenvolver devido a obras públicas e ações populistas por parte de políticos em busca de apoio. Financiando esses gastos com cada vez mais impostos e depois via inflação, é o início de uma gestão econômica irresponsável, que tende a criar dívidas.


O terceiro estágio é caracterizado pelo aumento da influência política e dos gastos militares. O poder central se expande, mas às custas da estabilidade financeira. Nesse estágio, muitos discursos nacionalistas e militaristas aparecem, discursos como "precisamos de um exército forte!", ou também "sem um exército poderoso, não somos um país forte! Uma nação digna!".


Com esse aumento do gasto militar, o país se envolve em alguma guerra e a necessidade de financiá-la leva os governos a abandonarem o lastro metálico de suas moedas. Foi exatamente isso que aconteceu na Primeira Guerra Mundial, quando os países europeus abandonaram o lastro em ouro para financiar os seus exércitos e armamentos. A inflação começa a corroer o valor do dinheiro, mas é "justificada" em nome da segurança nacional. E, é claro, quem questionar o governo num período de emergência, como uma guerra, sofre as piores consequências.


No quinto estágio, mesmo após a guerra ter acabado, inclusive em situações de vitória, a moeda continua sendo impressa, muitas vezes com alguma desculpa política como "precisamos nos recuperar dos gastos da guerra". No entanto, essa impressão não acaba, pois é extremamente favorável politicamente. Imagine se você pudesse simplesmente criar dinheiro do nada? Esse é um poder que os governos possuem e que usam e abusam dele, independente da inflação gerada. Claro, tudo isso tem um grande custo à população e leva um certo tempo para a conta chegar, e a popularidade do governo desabar, como podemos ver hoje em dia na Argentina.


Assim, no sexto e penúltimo estágio, a população percebe o quão brutalmente desvalorizado a própria moeda se tornou, diminuindo assim a confiança nela. Como uma moeda fiduciária é baseada puramente em confiança, diferente do ouro e tantas outras, ela começa a perder mais ainda seu valor. Nenhuma empresa estrangeira irá querer fazer trocas usando essa moeda desvalorizada, a pequena demanda por ela se torna apenas aquela imposta pelo governo.


E no último estágio o ciclo recomeça, com uma reformulação do sistema monetário, como o Plano Real no Brasil, e até mesmo a dolarização proposta por Javier Milei. No primeiro estágio tínhamos um dinheiro de qualidade, e no último chegamos à moeda de quantidade, e o império enfrenta desafios crescentes de hiperinflação e perda de confiança. A população, legalmente ou não, começa a buscar alternativas de dinheiro, antigamente com moedas de ouro puro, ou hoje em dia com o dólar, Bitcoin, entre outros, minando a estabilidade da moeda nacional.


A série destaca a importância de entender os princípios fundamentais do dinheiro e os perigos de desviar-se desses princípios. Ao seguir essa jornada histórica, somos alertados para os padrões que podem impactar as economias modernas, incentivando uma nova abordagem em relação ao sistema financeiro.
Inclusive, é bem provável que a Venezuela ou a Argentina passaram pela sua mente, correto? Ou até mesmo o nosso maravilhoso Brasil, com o já citado Plano Real, que surgiu para combater a inflação descontrolada das décadas passadas, nos faz pensar o perigo de deixar o governo controlar o sistema monetário. Se você olhar na história dos países, muitos, se não todos, encaixam nessa descrição dos sete estágios de um império.
Aliás, recomendamos assistirem à série inteira caso tenha algum nível de compreensão do inglês. Há um episódio exclusivo para o Bitcoin, além de vários outros ensinando sobre o sistema monetário, economia e história das moedas.


Enfim, recomendo que procurem em toda a história do sistema fiat, quantas e quais moedas sobreviveram ao tempo e à inflação, pois até mesmo o grande Império Romano foi enfraquecido pela falsificação estatal. Se quiser um spoiler, Mike Maloney já respondeu essa questão, e para o espanto de muitos, mas não para nós libertários, 100% das moedas fiat foram a zero, e se ainda não vale zero, em algum dia chegará.

Referências:

https://www.swfinstitute.org/news/89070/what-is-the-cantillon-effect-and-why-its-even-more-important-now
https://www.youtube.com/watch?v=EdSq5H7awi8&list=PLE88E9ICdiphYjJkeeLL2O09eJoC8r7Dc&index=2