O que a imigração italiana nos ensina sobre cooperação?

Trabalhe, prospere e forme redes de apoio comunitário. Tenha sucesso apesar do Estado!

Para entender o processo que levou milhares de pessoas a deixar seu local de origem e migrar para um lugar distante e desconhecido, de língua e cultura diferentes, temos que voltar no tempo e aportar na Europa nos idos dos anos 1850. Essa foi a década da primeira leva de imigrantes italianos com destino ao Brasil.
Desde 1830, o clima esfriava ano a ano, num ciclo de resfriamento conhecido como “mínimo de Dalton”, sendo justamente o ano de 1850 provavelmente o ano mais frio desse ciclo. As terras de todo o norte da Europa e Ásia, incluindo Islândia, Inglaterra, Holanda, países nórdicos e Rússia, passaram a ficar permanentemente congeladas, mesmo no verão.
Rios inteiros, como o Tâmisa em Londres, ficaram totalmente congelados durante o inverno. Já na Noruega, o país nórdico perdeu o acesso ao mar durante a maior parte do ano.
Essas condições de frio intenso forçaram uma migração de povos inteiros, procurando terras agricultáveis e acesso ao mar para pesca. No entanto, à medida que essas pessoas famintas migravam para o sul da Europa, encontravam mais gente miserável, com colheitas cada vez menos produtivas e menos água disponível.
Este era o cenário base da região que, quanto mais ao norte, mais sofria com o frio. Agora vejamos o caso da Itália.
Cabe analisar a situação da região do Vêneto, que hoje compreende a área entre as cidades de Veneza, Mântua e Verona, e que se situa logo ao sul no pé dos Alpes. Foi dali que vieram as primeiras levas de migrantes para o Brasil.
Dado o resfriamento, no prazo de alguns anos, a população da cadeia montanhosa dos Alpes migrou em massa para sul, buscando clima mais ameno, acesso a água e terras descongeladas. Esse processo migratório acabou superlotando a região do Vêneto e transformando-a em um mar de miseráveis.
Com a crescente acumulação de neve nos Alpes, o grande rio Pó e seus afluentes foram gradualmente diminuindo a água disponível para a população da região. Isso afetou a disponibilidade de água para criação de animais e agricultura de milho, batata, ervilha e frutas.
São muitos os casos de testemunhas históricas contando a difícil situação em que viviam naquela época. Dentre os relatos chama a atenção a situação de fome. Quanto ao frio essa gente sempre deu um jeito! Mais lenha nas caldeiras e fogões, mais cobertores e calor humano e tudo resolvido, agora ficar sem comida alguma complica. Polenta e miúdos de galinha eram iguarias que eram disputadas por famílias famélicas inteiras.
E, para piorar ainda mais a situação, havia conflitos armados na tentativa de unificação da Itália, que culminou com a criação de um estado-nação em 1861. Foi com ajuda de Giuseppe Garibaldi (sim o mesmo bandido da revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul), sob comando dos mafiosos da Sardenha, que se deu esse processo de unificação. Mas os conflitos não terminavam e a economia estava em frangalhos.
Foi nessa época que pequenos reinados descentralizados, que tinham alta eficiência econômica e orientados para a paz, faziam comércio entre si e permitiam o florescimento cultural, acabaram sendo substituídos por um poder altamente centralizado e controlador. É esse ambiente livre antes da centralização estatal que Hans Hoppe descreve no seu: “Democracia - o Deus que falhou”.
Mas se no norte da Europa a situação se complicava pelo clima e pelas guerras, no Brasil o ambiente só melhorava - pelo menos naquela época!
O governo era o da estabilidade de dom Pedro II e, desde que a princesa Leopoldina abriu as portas do Brasil para imigrantes alemães e austríacos, criou-se uma prática de atrair gente para ocupar o vasto território brasileiro. Naquela época o nosso país contava com cerca de 8 milhões de habitantes, o dobro da atual população do estado do Espírito Santo.
Os efeitos do mínimo de Dalton pouco se sentiam na tropicália brasileira. As terras nunca congelavam, o sol brilhava de verão a verão e as águas pareciam infinitas! Aqui, os imigrantes italianos, predominantemente agricultores, puderam confirmar o que Pero Vaz de Caminha já tinha visto 350 anos antes: “em se plantando, tudo dá”!
Então, copiando as práticas da princesa Leopoldina, sua mãe, dom Pedro II se dispôs a conceder terras de sua realeza para os futuros imigrantes italianos. Quando a notícia brasileira chegou na Itália o povo praticamente não tinha mais escolha: embarcaram!
Os italianos vinham com suas famílias, unidos por um sentimento de sobrevivência, pela busca de uma sonhada prosperidade e amparados pela fé Católica Romana. Eles vinham financeiramente pobres, mas socialmente estruturados e cheios de esperança!
Ainda tiveram que se adaptar ao clima, aos costumes, às doenças, à língua e ao racismo! Sim ao racismo meu prezado liberteen! Sua cultura contrastava com a dos portugueses, que viam o trabalho pesado como um insulto e, também contrastava com a cultura local, que operava sem muita técnica. Mas parecem não ter dado muita bola pra isso, já que trabalhavam de sol a sol 7 dias por semana rindo, rezando, tomando vinho e se divertindo em festas comunitárias.
Ao todo, vieram para o Brasil cerca de 580.000 italianos entre as décadas de 1850 a 1920. Gerando famílias numerosas geração após geração e posteriormente miscigenando-se no liquidificador cultural brasileiro.
Hoje, dispersaram seus genes pela população brasileira e se pode encontrar descendentes principalmente dentro das culturas gaúcha e caipira. Estima-se que entre 15% e 25% da população brasileira tenha alguma contribuição genética dos primeiros imigrantes italianos.
Há contos afirmando que o governo brasileiro teria facilitado a imigração de italianos e alemães com o objetivo de “branquear” a população. Dada a cultura portuguesa isso não nos parece plausível. No entanto, mesmo que isso seja verdade, se trata apenas de mais uma ação espúria de mafiosos no planejamento central. Pergunto: o que o pobre agricultor que morria de frio e fome no norte da Itália tem a ver com essa política espúria? Nada!
Sim, os primeiros italianos ganharam terras do governo brasileiro, mas situavam-se em locais distantes de cidades consolidadas. Eram lugares isolados, como o alto da serra gaúcha, na região montanhosa de Bento Gonçalves, onde os imigrantes foram praticamente deixados à própria sorte. E, mais uma vez, sobreviveram unidos, abrindo o mato, plantando culturas, criando porcos e galinhas, construindo casas e estradas. Tudo isso sem ajudinha de um estado assistencialista e espoliador.
Quando já estavam mais estruturados e produzindo quantidades excedentes ao seu consumo, criaram rotas de comércio com outras cidades, estabelecendo parcerias e trocas dos mais diversos produtos.
Cresceram, prosperaram e fundaram cidades inteiras. Seus descendentes já nascidos aqui, expandiram-se para o norte do Rio Grande do Sul, na região de Passo Fundo. Posteriormente ocuparam o Paraná, de onde foram para o Mato Grosso do Sul e pularam para o Mato Grosso. Hoje, encontram-se em novas frentes de agricultura pelo oeste da Bahia, sul do Maranhão e Piauí, Rondônia, Acre e sul do Amazonas.
Então, você que pensa em sair do país para buscar meios melhores de viver, aprenda com esse exemplo que nada pode te deter! Mas para isso há de se fazer um planejamento. Estabeleça redes de cooperação e parcerias, una-se a quem está trabalhando! Inclusive os imigrantes têm um ditado que diz: “é mais fácil apertar o passo para alcançar quem já está correndo, do que puxar quem está parado”.
Se trata de mais um caso de prosperidade, apesar do Estado! Ao longo do tempo, os imigrantes, como todo o povo brasileiro, penaram e ainda penam na mão do estado predador que temos aqui. Esse estado cada vez maior, mais interventor e anti-mercado desde a proclamação da república, mas que se socializou de vez com Getúlio Vargas sempre foi o maior impeditivo para nosso progresso.
Inclusive, veja o documentário do Brasil Paralelo sobre a era Vargas, que fala de forma detalhada sobre esse período histórico. Deixamos como recomendação também o vídeo “A herança que Getúlio Vargas deixou para o Brasil” aqui do Visão Libertária. Os links estão na descrição deste vídeo.
Só nos resta imaginar o que essa gente teria feito se tivesse ampla liberdade para empreender aqui no Brasil. Para ficar em um só caso: o Brasil manda café em grão para a Itália e compra de volta as cápsulas e as máquinas, inclusive aquelas que ficam nas rodoviárias e aeroportos. E você já sabe por que não se produz máquinas e nem se manufatura nada aqui no Brasil, certo? Impostos, leis trabalhistas absurdas, insegurança jurídica, regulações tresloucadas, enfim, não dá!
Mas se você gostou dessa epopeia humana, fique ligado pois no nosso país também houve grande imigração de alemães e japoneses, sem falar de turcos e sírios. Quem sabe alguma dessas pode vir a ser um vídeo aqui no canal? Deixe nos comentários sua sugestão.
Para continuar nesse assunto veja agora o vídeo aqui no canal: “A economia da Itália - Do Império Romano ao fascismo”, o link segue na descrição.

Referências:

A economia da Itália - Do Império Romano ao fascismo
https://www.youtube.com/watch?v=1F-_Gj4XIv8

A herança que Getúlio Vargas deixou para o Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=8CbhYIr4f94

(Brasil Paralelo) Capítulo 6 - Era Vargas: O Crepúsculo de um Ídolo
https://www.youtube.com/watch?v=FRzjxqqZgr4&t=1s

História clima SP
http://www.geomorfologia.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/trabalhos_completos/eixo4/019.pdf

Paleoclima, ciclos de Milankovich e modelos
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662015000400811

Breve História da imigração
https://www.infoescola.com/geografia/imigracao-italiana-no-brasil/
https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/italianos/razoes-da-emigracao-italiana.html
https://wp.ufpel.edu.br/museumaciel/imigracao-italiana-no-brasil/
http://www.museudaimigracao.org.br/