De forma inédita, fundo de pensão britânico aloca investimento em Bitcoin. Com os velhinhos na reta, já podemos dizer que o Bitcoin é “too big to fail”?
A empresa de consultoria financeira Cartwright, especializada em fundos de pensão, anunciou no dia 4 de novembro agora, que auxiliou um de seus clientes a alocar três por cento do patrimônio do fundo em bitcoin, totalizando 65 milhões de dólares. É o primeiro fundo do gênero a investir na moeda laranja nas terras de sua majestade, um movimento de vanguarda que deve ser seguido por outros fundos a partir de agora.
Além disso, há duas outras peculiaridades nessa matéria que merecem destaque. Primeiro que o fundo optou por um sistema de autocustódia ao invés da muito mais prática exposição via ETFs, o que pode indicar uma preocupação com a máxima: "not your keys, not your coins". Isso se sustenta pelo segundo ponto: a argumentação da consultora para recomendar o ativo. De acordo com a nota emitida pelo site: "o bitcoin é entendido como uma proteção contra a diluição do papel moeda, um ativo sem risco de contraparte e diversificação entre diferentes ativos, gerando uma assimetria positiva". O fundo também se mostra otimista com o crescente entendimento do Bitcoin como moeda.
Caramba, agora teremos vovós bitcoinheiras! Eu não vejo a hora! Sejam bem vindas! E elas já chegam desbancando os faria-limers, com autocustódia e visão de longo prazo. Nunca tive tanto orgulho de ter puxado pra minha avó!
Nas palavras de Glenn Cameron, um dos heads da empresa:
"Nas moedas dos estados-nação, como a libra e o dólar, mais notas e moedas podem ser emitidas conforme e quanto os poderes por trás delas decidirem. por outro lado, haverá apenas um número fixo de bitcoins – quando o número máximo for atingido, nenhum outro será criado. Nesse sentido, o bitcoin é comparável ao ouro."
Na verdade sir Glenn Cameron está errado, já que a oferta de ouro é virtualmente infinita, mas sua escassez depende de recursos humanos e financeiros para minerá-lo e disponibilizá-lo no mercado. Então sim, o ouro é um bem escasso e que ainda encontra outros usos na sociedade, mas ao menos nesse quesito não pode se comparar ao Bitcoin, já que no limite a escassez programada do Bitcoin tende ao infinito.
A crescente institucionalização do bitcoin gera apreensão entre libertários e entusiastas da criptomoeda, afinal o governo, sempre ansioso por controle e arrecadação, pode passar legislações na tentativa de regular a tecnologia. Tais como barreiras à mineração, cada vez mais compliance ou até mudanças no código fonte. Mesmo que o futuro e a ação humana sejam imprevisíveis é possível conjecturar que, na verdade, a popularização do bitcoin o tornará ainda mais antifrágil.
Conforme mais investidores, especialmente os institucionais, alocam recursos de seus clientes na criptomoeda, maior é o lobby entre esses poderosos no sentido de evitar regulações potencialmente desfavoráveis, uma vez que isso significa perda de credibilidade, clientes e, em última instância, dinheiro. Se essa tendência persistir é provável que da próxima vez que um burocrata sugerir a regulação das criptomoedas por qualquer motivo que seja, um grupo cada vez maior de gestores de fundos e clientes apontem o perigo que isso representa para os aposentados e aqueles que dependem de fundos de investimentos para sobreviver.
Essa dinâmica já acontece com outros ativos do mercado tradicional, como ações na bolsa de valores e imóveis. Principalmente no primeiro mundo, muitas pessoas dependem dos rendimentos auferidos de investimentos para se sustentar. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 60% da população adulta possui ações. Uma frequente consequência desse modelo é o hiper estímulo que ocasionalmente o estado dá ao mercado, seja por fé nas políticas keynesianas, seja por motivos eleitoreiros. Mas que inevitavelmente geram bolhas nos ativos, tal como ocorreu na crise de 2008.
No entanto, mesmo esse hiper estímulo pode beneficiar o bitcoin. Como é um ativo muito mais volátil do que os demais, em períodos de expansão econômica tende a se valorizar mais do que o resto do mercado. Da mesma maneira que ações se movimentam e valorizam mais rápido do que os imóveis e estes, por sua vez, mais rápido do que o mercado de títulos. O aumento do valor aumenta o interesse do público e dos gestores de fundos, que por sua vez estimula esse grupo a usar de sua influência para frear ataques do governo.
Dessa forma, o bitcoin se torna um ativo que existe em dois mundos diferentes, se beneficia da influência dos lobistas e do fluxo de dinheiro fiat em momentos de expansão econômica. Ao mesmo tempo que segue funcionando perfeitamente como o dinheiro P2P que foi desenhado para ser.
Um maior conhecedor de história monetária pode afirmar que essa análise não é racional, uma vez que em 1933, com a ordem executiva 6102, o governo dos Estados Unidos proibiu a posse de ouro por parte de seus cidadãos. Mesmo o ouro ainda sendo parte central do sistema financeiro da época. Percebe-se que o estado, ao se sentir ameaçado, usa de todas as armas a sua disposição para garantir sua hegemonia. Isso é certamente verdade, mas mesmo o estado é limitado por algumas coisas fora de seu controle, como a legitimidade percebida e a capacidade de impor sua vontade. Há, portanto, uma diferença fundamental entre esses casos. Em 1933 os lobistas e os grandes bancos estavam do lado do governo e se alinharam ao Federal Reserve. O que não aconteceria necessariamente para o caso atual do Bitcoin, uma vez que os fundos de investimentos teriam mais a perder do que a ganhar. Fora que o bitcoin é um ativo global e muito mais fácil de armazenar e transferir do que o ouro.
Aliás já tentaram tantas vezes proibir o Bitcoin... Falharam e continuarão a falhar miseravelmente. Bitcoin é uma DAO ou organização autônoma descentralizada. Ele funciona de maneira descentralizada, na rede, na internet e mesmo fora dela. Não há ponto fixo de ataque, não há como impor regras, impostos ou taxas. Não adianta legislar sobre. É praticamente impossível confiscar. É o sonho de Hayek se tornando realidade: é o dinheiro livre das garras do estado!
Para além disso, a história também nos ensina que a sociedade reage de forma intensa quando o governo ataca suas finanças diretamente. O confisco da poupança autorizado por Fernando Collor criou uma geração inteira de brasileiros ressabiados com instituições financeiras, preferindo transações em moeda física. E a sequência de hiperinflações e planos fracassados criaram uma sociedade apaixonada por imóveis e compras em grande quantidade, o famoso rancho.
Exemplos mais extremos podem ser encontrados onde o governo é ainda pior. De acordo com o Statista Global Consumer Survey, a Nigéria é relativamente o país que mais usa bitcoin como meio de troca no mundo. Estima-se que 32% da população possui ou usa a moeda digital. A tendência se agrava dado que o governo do país, vez por outra, proíbe o saque em dinheiro físico nos bancos e desvaloriza a moeda. Outros países no topo da lista de usuários de Bitcoin são Vietnã e Filipinas, ambos com mais de 20%, mesmo com governos relativamente mais estáveis.
Com isso em mente, fica claro que o bitcoin está caminhando para ser uma ferramenta financeira única na história, capaz de navegar entre a esfera institucional e a esfera privada. Usado como investimento e aposentadoria para os idosos na Inglaterra, assim como meio de troca por milhares de pessoas que vivem em regiões pobres, com governos autoritários.
Nosso querido BTC, cada vez mais se destaca entre os ativos financeiros e ocupa uma posição de ganha-ganha como nenhum outro ativo jamais teve. Seja hiperinflação, controle de capitais, desvalorização da moeda ou dinheiro estatal inteligente, que parece ter saído de uma distopia soviética, a resposta para cada uma dessas perguntas é um ativo que não pode ser diluído e nem confiscado, a resposta é o bitcoin.
O futuro do bitcoin se encontra nessa intersecção de dois mundos aparentemente contraditórios. De um lado, temos os usuários tradicionais - entusiastas da liberdade financeira, comerciantes que buscam escapar do controle estatal, as pessoas em países com moedas instáveis e os indivíduos que simplesmente desejam proteger seu patrimônio da diluição inflacionária. Do outro lado, um aliado improvável: fundos de pensão, investidores institucionais e gestores de grandes fortunas, que enxergam na criação de Satoshi uma ferramenta de diversificação e proteção patrimonial.
Esta convergência de interesses pode ser a chave para o sucesso. Quando aposentados ingleses, investidores de Wall Street, comerciantes da 25 de março, cidadãos oprimidos por regimes autoritários e anarcocapitalistas compartilham o mesmo interesse no ativo, cria-se uma força política e econômica difícil de ser suprimida, mesmo pelos governos mais tirânicos. Se essa tendência persistir, e tem tudo para que continue, o bitcoin pode em breve se tornar “too big to fail”. Em outras palavras, o Bitcoin pode se tornar importante demais para ser ameaçado por qualquer político, agremiação ou país.
Recentemente o Bitcoin tem acumulado sucessivas altas e quebrado sua máxima histórica. No curto prazo pode-se atribuir esse movimento a situações do cotidiano, como a vitória de Trump na casa branca ou a diminuição da taxa de juros americana pelo FED. No entanto, esses movimentos de curto prazo só se sustentam ao longo do tempo pelas bases sólidas sobre as quais o Bitcoin foi construído.
Sim meus caros estamos frente a frente com uma mudança de paradigma e, para compreender melhor do que isso se trata, seja agora o vídeo: "Bitcoin: o novo paradigma financeiro", o link segue na descrição.
Bitcoin: o novo paradigma financeiro
https://www.youtube.com/watch?v=Hdoup7jb0ow
https://www.coindesk.com/pt-br/business/2024/11/04/first-uk-pension-fund-invests-in-bitcoin/
https://exame.com/future-of-money/fundo-de-pensao-bilionario-anuncia-alocacao-em-bitcoin-pela-1a-vez-no-reino-unido/
https://cartwrightbenefits.co.uk/news_press_november_2024.html
https://www.statista.com/chart/18345/crypto-currency-adoption/