A história da Transnístria, o último País Comunista da Europa

Uma república separatista no leste europeu que não esquece seu 'glorioso' passado comunista e quer fazer parte da Rússia.

Enquanto países como a Ucrânia querem esquecer seu passado soviético e elimina frequentemente estátuas daquela era, um pequeno país segue o caminho contrário. É claro que estamos falando da ex-República Soviética da Transnístria...

A Transnístria é uma pequena república separatista entre a fronteira da Moldávia e da Ucrânia com pouco mais de 400 mil habitantes, tendo a cidade de Tiraspol como capital e sendo também chamada de República Moldava Peridniestriana. Atualmente ela permanece como um último resquício das antigas repúblicas ao molde soviético, com sua bandeira sendo vermelha com uma foice e martelo e uma grande faixa verde atravessando-a.

No dia 28 de fevereiro deste ano, os parlamentares de lá votaram em um congresso extraordinário pedindo pela proteção do país à Rússia. Eles alegam que o governo moldavo (atualmente alinhado com a União Europeia e contra a Rússia) estaria fazendo bloqueios econômicos visando sufocar a região e transformá-la em um "gueto".

Por anteriormente ser considerada parte da Moldávia, as importações da Transnístria eram isentas de alfândega e imposto de importação, o que muda agora com a entrada da Moldávia na União Europeia. Agora, pequena república não possui outra alternativa a não ser pagar as taxas de importação e exportação, por dividir fronteira com a Moldávia e a vizinha Ucrânia.

Ironicamente, o próprio presidente da Transnístria se distanciou do discurso extremamente pró Rússia e declarou que pedia um diálogo pacífico e um apoio diplomático dos russos. O ditador russo, Vladimir Putin, ainda não deu resposta sobre isso. Já a atual presidente da Moldávia, Maia Sandu, negou esse suposto bloqueio à região e afirmou que a Moldávia está agora "dando pequenos passos para a reintegração econômica do país".

A título de curiosidade, o presidente da Transnístria, Vladmir Krasnoselsky, não é um comunista e se descreve como um monarquista russo. Para ele, os símbolos soviéticos no país são algo ultrapassado e deseja a volta da Rússia sob o poder de um Tsar. Somente um fato curioso mesmo.

Mas afinal de contas, como tudo isso começou? Como que esse minúsculo país se manteve? Por que não foi reanexado à Moldávia e por que tem apoio dos russos? É isso que iremos te contar!

A Moldávia era uma das 15 repúblicas constituintes na União Soviética, tendo sido anteriormente uma região da Romênia que foi anexada pelos soviéticos após a Segunda Guerra Mundial. Inclusive, as bandeiras dos dois países são similares até hoje. Com o fim da década de 80, alguns grupos dentro das repúblicas soviéticas começaram a pressionar por independência, e a Moldávia se tornou independente oficialmente em 27 de agosto de 1991.

Porém, ainda existiam setores da esquerda mais radical que queriam manter a esfera de influência soviética mesmo com o desmoronamento desse decadente império. Com os movimentos se concentrando principalmente na atual região da Transnístria, um grupo radical de milícia armada foi formado e declarou independência da nova república com apoio direto da Rússia.

Iniciaram-se diversos confrontos entre essas milícias e a Moldávia, dando início à Guerra da Transnístria. Mas, em julho de 1991, com um programa desesperado de recrutamento, os moldavos conseguiram reunir cerca de 25 mil soldados para combater os rebeldes, em sua maioria novatos e sem treinamento. Foi realmente uma medida de urgência.

Foi então que a Rússia, já sob a presidência de Boris Yeltsin interviu a favor dos separatistas, com 14 mil soldados profissionais ajudando os rebeldes, que eram somente cerca de 10 mil soldados. A Transnístria foi defendida quase inteiramente pelos russos, muito mais do que pelos próprios guerrilheiros nativos.

A Moldávia, obviamente, não conseguiria retomar seu território com esse número de soldados e em 21 de julho de 1992, assinaram um armistício. Ainda assim, a pequena república nunca foi reconhecida como um estado independente, sendo oficialmente um território da Moldávia.

Mas pelos presidentes que se seguiram na Moldávia serem em maioria pró-russa, nunca houve problemas com Moscou até a chegada de Maia Sandu, a primeira mulher a presidir o país. Ela defende a integração da Moldávia com a União Europeia e já admitiu que se não fosse a resistência ucraniana, eles seriam os próximos a serem invadidos pela Rússia.

Mas, por que, depois de tudo isso, a Rússia mantém interesse em uma região minúscula e pouco produtiva a mais de 600 km de suas fronteiras? A resposta é, como sempre, a projeção de poder por meio do exército.

Segundo algumas fontes, um grande estoque de armamento da era soviética está na Transnístria, realocado para lá conforme o declínio soviético aumentava. Especula-se que seja o maior arsenal do período da Guerra Fria. Não à toa, esse foi um grande problema para as ex-repúblicas quando a União Soviética acabou. Foram centenas de armas, munições, tanques e até bombas atômicas que ficaram fora da Rússia e, como eram muito custosas, algumas foram devolvidas em troca de acordos.

O mais famoso deles é obviamente o da Ucrânia, que devolveu as armas nucleares que havia em seu território em troca da garantia de não ser invadida pela Rússia futuramente. Assim como qualquer acordo estatal, esse também não valeu de nada.

Atualmente, 220.000 cidadãos russos ainda moram na Transnístria. E por ela ter fronteira com a Ucrânia, muitos temem que poderia se tornar um novo fronte para a guerra da Ucrânia com a Rússia, devido ao discurso do Putin de "proteger cidadãos russos em países estrangeiros". O principal alvo poderia se tornar a cidade de Odesa, surpreendendo os ucranianos e dando margem para eles perderem a região sul do país.

Mas olhando de um ponto de vista mais realista, isso é extremamente improvável. Os russos atualmente lutam para manter o Fronte que já tem no leste da Ucrânia, levando um monte de perdas e sem nenhum avanço significativo à medida que só perderam com a guerra.

Além disso, a suposição seria iniciar uma campanha de recrutamento interno com os russos que vivem na Transnístria, utilizando o suposto equipamento estocado lá para realizar ataques. Contudo, pouco se sabe sobre a verdadeira qualidade desses equipamentos, já que não existem evidências de reparo constante, devido à prioridade do fronte no leste da Ucrânia.

Armas são caras de se manter e sendo um equipamento de mais de 30 anos atrás em um local tão distante, não faz sentido tentar recuperá-las. É mais vantajoso investir na produção ou compra de novas armas com mais qualidade e com modelos mais novos.

É uma possibilidade tão remota que nem chega a ser uma cogitação real, apenas uma ideia criada pelos espectadores da guerra. Seria muito provável no estado atual, a própria Moldávia aproveitar uma eventual perda da Rússia na guerra para poder retomar seu território, que sendo pequeno não seria algo difícil. Mas Maia Sandu não dá indícios de querer tal coisa.

Se os russos já estão tendo problemas com recrutamento e em manter os soldados que já possuem, imagine abrir outro fronte a 600 km das fronteiras da Rússia, em uma região de difícil acesso e que não oferece tanto ganho para a Rússia. Recentemente, o próprio Putin fez a comemoração da sua 82ª ameaça nuclear ao ocidente, o que só mostra o medo do ditador de perder o equilíbrio na guerra.

Os próprios equipamentos da época soviética que permanecem no pequeno país possuem poucos reparos e, na maioria, tornaram-se sucata, assim como o passado socialista da região. Embora esses equipamentos sejam relembrados por aqueles que sentem nostalgia dessa época marcada pela opressão, censura e perseguição, eles continuam inutilizáveis e são apenas mais peças para ficar em um museu.

Referências:

https://www.youtube.com/watch?v=hc6s2IjlVBs&t=104s&pp=ygUadHJhbnNuaXN0cmlhIG11bmRvIG1pbGl0YXI%3D