Enquanto Israel é falsamente acusado de cometer genocídio, inclusive pelo Brasil, vale a pena lembrar de um caso real de violência estatal contra minorias étnicas que, infelizmente, caiu no esquecimento.
Me diga se essa história não lhe parece familiar: uma etnia considerada como uma raça inferior, um grupo de sub-humanos, pelos alemães. Populações inteiras dessa etnia sendo enviadas para campos de concentração, cercados com arame farpado, onde as rações diárias de alimento eram insuficientes, e onde a taxa de mortalidade chegava aos 50%. Presos desses campos de extermínio sendo identificados por números, e cedidos como mão de obra escrava para empresas alemãs. Tudo isso sendo muito bem documentado pelos responsáveis. Ao fim de alguns anos, grande parte dos pertencentes a essa etnia haviam sido exterminados.
Essa poderia ser a história do Holocausto, ocorrido nos anos 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial. Mas, na verdade, estamos falando de outro genocídio, ocorrido 40 anos antes, e também por conta da ação maléfica dos alemães: o genocídio dos hererós e dos namas, que teve lugar na Namíbia, então dominada pelo Império Alemão, entre os anos 1904 e 1907. Esse caso, considerado o primeiro genocídio do século 20, e que, sob todos os aspectos, se assemelha bastante ao que os nazistas fizeram com os judeus e outras minorias, nos faz crer que a história, de fato, parece sempre se repetir.
Esse caso infame teve lugar no contexto do Imperialismo Europeu. O Império Alemão ingressou tardiamente na partilha da África entre as potências europeias. Ainda assim, os alemães foram capazes de abocanhar algumas partes do continente - como Togo, Camarões, Zanzibar e a Namíbia, tema deste vídeo. E, tal como seus pares europeus, os alemães trataram logo de explorar o território e, naturalmente, suas populações.
A Namíbia é um território coberto, em grande parte, por desertos, mas que possui também uma quantidade razoável de terras agricultáveis. Os povos que originalmente habitavam a região, como os citados hererós e namas, viviam, tipicamente, do pastoreio de gado. Quando os alemães chegaram por lá, no final do século 19, logo foram estabelecidos assentamentos de colonos alemães. Esses alemães, nos anos seguintes, passaram a tomar a terra dos nativos e, em outros casos, usaram-nos como mão de obra escrava - inclusive na mineração de diamantes.
O tratamento sub-humano dispensado aos nativos era evidente. Por exemplo: em questões judiciais, a palavra de um branco alemão equivale à de 7 nativos. Roubos de terra e de gado dos nativos, por parte dos colonos alemães, eram algo recorrente. Dessa forma, o território ocupado pelos colonos foi crescendo, às custas das regiões habitadas pelos povos originários. Por conta disso, o sentimento de revolta e injustiça, que tomava conta dos hererós e dos namas, acabou resultando em inúmeras revoltas.
A partir de 1903, diversas tribos namas, lideradas por Hendrik Witbooi, se revoltaram contra os alemães, matando dezenas de colonos nos conflitos que se seguiram. No ano seguinte, foi a vez dos hererós, liderados por Samuel Maharero, se unirem aos revoltosos. Num primeiro momento, os nativos pareciam ter obtido uma vitória considerável; mas sua sorte iria logo mudar.
Para combater a revolta, o Império Alemão enviou, para a Namíbia, o hoje infame General Lothar von Trotha, no comando de 14 mil homens, no dia 11 de junho de 1904. Logo na sequência, alemães e nativos travaram as primeiras batalhas, que terminaram em vitórias acachapantes para os colonizadores. Nesses conflitos, uma grande quantidade de nativos foi capturada, sendo mantidos como prisioneiros pelos alemães.
Por conta dessa sequência de eventos, milhares de outros nativos de ambas as etnias fugiram da Namíbia, se dirigindo para o atual território da Botsuana - que estava, na época, sob jurisdição dos britânicos. Estima-se que cerca de 24 mil hererós tentaram fugir pelo Deserto de Kalahari, onde a esmagadora maioria terminou por encontrar a morte por sede e exaustão. Pouco mais de mil nativos conseguiram terminar essa travessia mortal.
Porém, a resistência dos nativos, especialmente dos hererós, se mantinha firme. Por isso, o general von Trotha deu um ultimato aos povos nativos, em 2 de outubro daquele ano. Nas suas palavras ameaçadoras: “Todos os hererós devem deixar esta terra. Qualquer hereró encontrado dentro das fronteiras alemãs, com ou sem uma arma, com ou sem gado, será morto”. Na sequência, todos os homens nativos, que haviam sido capturados em combate, foram executados, a mando do general.
As mulheres e crianças, por sua vez, foram empurradas para o deserto, aos milhares, para morrer de fome. Outros milhares foram levados para campos de concentração construídos também no deserto - que seriam replicados, décadas depois, na Europa, pelos nazistas. Nesses campos, os prisioneiros - mulheres e crianças, em sua maioria, eram numerados - tal como aconteceria com os judeus, no futuro. Em seguida, os prisioneiros eram levados para o trabalho escravo, junto a empresas alemãs. Cada morte era meticulosamente registrada nos arquivos desses campos de extermínio.
Esses lugares, aliás, eram conhecidos por representar um inferno na terra, para os pobres nativos. A combinação de más condições de higiene, um subsídio alimentar quase nulo, a propagação de doenças e o trabalho extenuante levou a taxa de mortalidade nesses campos a algo perto de 50%. Estima-se que, nesse período, 65 mil hererós e 10 mil namas - 80% e 50% das populações originais, respectivamente - tenham perecido nas mãos dos alemães - por conta da guerra, da fome, das fugas, de doenças ou nos campos de extermínio.
O tratamento dado pelos alemães aos nativos era tão cruel, que essas ações terminaram por levantar críticas por parte da comunidade internacional. O Império Alemão se defendeu das acusações, afirmando que os nativos não poderiam ser protegidos pela Convenção de Genebra e suas definições de direitos humanos, porque aqueles povos deveriam ser considerados “subumanos”. Se esse discurso parece muito semelhante àquele feito pelo maníaco do bigodinho, pouco tempo depois - bem, provavelmente, não se trata de mera coincidência.
Infelizmente, embora o caso tenha se tornado um escândalo internacional, a coisa não teve tanta repercussão quanto deveria. O Genocídio do Congo Belga, que ocorria na mesma época, dizimando a vida de milhões de africanos, foi revelado à comunidade internacional e acabaria ofuscando os crimes alemães. E, como o Holocausto aconteceu algumas décadas depois e chocou o mundo, o genocídio cometido contra os hererós e os namas acabou ficando esquecido - algo extremamente injusto, diga-se de passagem.
Veja que, sob todos os aspectos, podemos considerar esse caso como um ensaio para o que os nazistas fariam, quatro décadas depois, em território europeu. Tudo o que se tornaria característico do Holocausto - como a perseguição a minorias, os campos de concentração com péssimas condições de vida, o extermínio deliberado de membros de uma população, o trabalho escravo - estava presente na Namíbia alemã. É difícil, portanto, não ligar ambos os eventos - embora a quantidade de vítimas do Holocausto esteja algumas ordens de grandeza acima.
De qualquer forma, o reconhecimento do papel da Alemanha nessa história começou apenas em 1998, quando Roman Herzog, então presidente do país, visitou a Namíbia e se encontrou pessoalmente com os líderes dos hererós. O primeiro pedido público de desculpas, contudo, ocorreria apenas em 2004. Foi quando a ministra do desenvolvimento da Alemanha afirmou que o governo do país reconhecia a “responsabilidade moral e histórica e a culpa pelos atos realizados pelos alemães na época”.
Já em 2021, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha fez outro pedido de desculpas formal: “À luz da responsabilidade histórica e moral da Alemanha, pediremos desculpas à Namíbia e aos descendentes das vítimas”. O governo alemão se comprometeu a pagar US$ 1,3 bilhões em reparação, durante 30 anos, como parte de um programa de desenvolvimento da infraestrutura do país africano.
Veja que foi só depois da pandemia de 2020 - pois é - que a Alemanha reconheceu sua culpa num crime ocorrido mais de 100 anos antes. De qualquer forma, muitos líderes tribais da Namíbia se recusaram a aceitar a proposta feita pelo governo alemão. Até porque, para ser sincero, essa proposta nada mais é do que dinheiro sendo entregue a um estado, por conta de crimes cometidos por outro estado, num longínquo passado. As famílias das vítimas, no fim das contas, ficam sem nada.
Esse é mais um triste capítulo na longa história da maldade humana, mas que deve ser colocado, sem dúvidas, na conta do estado e sua ideologia de domínio e escravidão. Enquanto a Alemanha era uma colcha de retalhos no coração da Europa, com um governo altamente descentralizado, esse tipo de situação não aconteceu. Quando surgiu o primeiro governo efetivamente centralizado, o Império Alemão, os massacres contra inocentes começaram - e demoraram a cessar.
É claro que não se trata apenas de um problema da Alemanha; genocídios, infelizmente, são uma praga comum a diversos governos, ao redor do globo. Já falamos sobre outros casos aqui no canal, como o do Camboja. Veja o nosso vídeo: “A tragédia comunista no CAMBOJA” - link na descrição. Mesmo assim, não dá para varrer a sujeira para debaixo do tapete. Dado o histórico alemão, os crimes cometidos contra os nativos da Namíbia tendem a ser esquecidos; mas isso não pode, jamais, acontecer.
A verdade, porém, é que a história dos estados é mesmo a história do massacre dos inocentes. Todos os genocídios registrados - e eles existem desde o século 18, - devem ser colocados na conta de diversos tipos de governo. Longe de garantir segurança aos cidadãos e preservação dos direitos humanos, o estado existe, apenas, para trazer medo, insegurança e, no pior dos cenários, a morte para inocentes. Em alguns casos extremos, para centenas, milhares, milhões de inocentes.
Devemos ainda recordar, como é triste ver o modus operandi da esquerda ideológica. Por um lado, os esquerdistas criam espantalhos, chamando de genocídio aquilo que definitivamente não o é - como o caso do Bolsonaro, aqui no Brasil, e o de Israel, na atualidade. Por outro lado, os esquerdistas passam pano para governos ditatoriais e criminosos e defendem uma ideologia que é, por sua natureza, genocida - o comunismo. Em resumo, o que podemos deduzir, tanto da história do Genocídio na Namíbia, quando da hipocrisia da esquerda, é que quem defende um estado centralizado e todo-poderoso, defende a morte de inocentes, das formas mais cruéis que podemos imaginar.
Se quiser continuar nesse assunto e conhecer uma opressão estatal comunista e seus crimes contra um povo inocente, deixamos como recomendação o vídeo: COLHEITA AMARGA revela o Holodomor UCRANIANO. O link está na descrição.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Genoc%C3%ADdio_dos_herer%C3%B3s_e_namaquas
Visão Libertária - A tragédia comunista no CAMBOJA:
https://www.youtube.com/watch?v=37mMWUc87co&pp=ygUddmlzw6NvIGxpYmVydMOhcmlhIGdlbm9jw61kaW8%3D
Visão Libertária - COLHEITA AMARGA revela o Holodomor UCRANIANO:
https://youtu.be/4jotpgGqetA