Estado americano quer a SECESSÃO dos EUA. Conseguiríamos algo assim no BRASIL?

Um grupo de New Hampshire se movimentou pedindo pela secessão do seu estado. Será que no Brasil os estados teriam um destino pior se exigissem a secessão que culminasse em uma Guerra Civil?

Na semana do dia 9 de julho, em New Hampshire, um dos estados americanos que ficam mais ao norte do país, aconteceu o lançamento do movimento NHEXIT Now (New Hampshire EXIT Now), que visa ter a secessão dos Estados Unidos, estabelecendo uma nova nação. Nos Estados Unidos, os movimentos de independência são ativos e numerosos, e segundo a mídia tradicional, criam uma divisão feroz entre os Democratas e os Republicanos ao nível federal. Para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa feita pelo YouGov com 35 mil americanos adultos, 23% deles apoiariam que seu estado fosse independente, sendo o Alasca e o Texas os primeiros da lista.


Este movimento de separação está sendo liderado por Carla Gericke, que já tinha envolvimento com o Free State Project, um grupo de tendências libertárias que encoraja indivíduos com ideias semelhantes a buscar maior liberdade para seu estado. Em comunicado a mídia, Carla disse que a federação é responsável por arrastar toda a nação à beira da falência. Além de desviar dinheiro das contas dos contribuintes atropelando os direitos de todos os cidadãos, principalmente, os de New Hampshire. Segundo ela, o grupo apenas quer garantir que os direitos e as necessidades básicas dos residentes do estado sejam resolvidos pelos próprios moradores, e não por um burocrata em Washington DC. A equipe do projeto diz que busca uma solução pacífica, democrática e legal para a independência.


Além deste projeto, outro grupo chamado Free Louisiana, também iniciou-se na mesma semana seus trabalhos para pressionar a União para que o estado de Louisiana seja independente ou faça parte de outro país chamado Federação de Estados da América Central. Em 1869, a Suprema Corte decidiu que os estados não têm direito legal de se separar, concluindo que todos os membros da federação possuem em uma relação indissolúvel com a federação. Em 2006, um juiz federal reiterou que “se houve alguma questão constitucional resolvida pela Guerra Civil, é não haver direito à secessão”.

Mas e aqui no Brasil? Será que teríamos alguma chance dos estados se separarem igual ao filme Guerra Civil, estrelado por Wagner Moura? Sabemos que aqui temos diversos grupos que querem a secessão dos seus respectivos estados, mas o que aconteceria se eles pegassem em armas e enfrentassem o governo federal?

Antes de tudo, deixamos um aviso logo de que essa é uma análise de como poderia ser uma guerra civil no Brasil, de maneira puramente especulativa. Dito isso, não apoiamos de maneira alguma um conflito armado ou qualquer tipo de revolução que mataria milhões para substituir um estado pelo outro. Esclarecido isso, podemos começar.

Os países do ocidente, principalmente os que constituem a Europa e as Américas, passaram por uma grande polarização política. A esquerda se enraizou no poder em diversos desses países, criando uma narrativa hegemônica só para um lado. Com o tempo, essa forçação de barra fomentou debates e uma guerra ativa entre o lado oposto. Com ambos sendo obrigados a conviver um com o outro sem um direito de secessão ou uma grande autonomia das regiões, há constantes hostilidades entre os indivíduos de pensamentos opostos. Diferentemente dos Estados Unidos, onde os entes federativos possuem uma autonomia maior, aqui no Brasil é impossível sair de um estado e ir para o outro imaginando ter diferentes tipos de liberdades ou limitações. No caso das terras do Tio Sam, uma pessoa que quer ter o porte de arma, pode sair da Califórnia e ir para o Texas. Se quiser um local que permite aborto, pode sair da Flórida ir para o estado de Washington. É uma tristeza viver em um país cujo nome inicia-se com “República Federativa”, mas de federação não possui nada, relegando a palavra apenas a um adjetivo de enfeite.

Isso se torna um problema quando diversos estados se separam do original por conta de proibições impostas. Isso cria uma guerra civil para impor seu próprio lado e instaurar seu próprio regime. E o Brasil não escaparia disso. A elite governante se torna mais agressiva a cada dia, aumentando as perseguições, burlando a própria constituição e as leis conforme for conveniente. Em um cenário de ditadura, não há mais meios legais de se mudar o cenário. O único meio possível, é a violência. Então será que o Brasil poderia cair para esse cenário? Como aconteceria?

O principal que temos que saber é: qual seria o tipo da guerra civil que enfrentaríamos? Existem várias maneiras de como o conflito pode eclodir: cidades sendo tomadas por rebeldes, perdendo o controle federal; estados inteiros se aliando, formando seu próprio exército para lutar contra a antiga federação, como a Guerra Civil Americana e os Estados Confederados. É fundamental saber quais áreas estariam sob controle de quem, a fim de traçar uma estratégia. Caso as cidades começassem a se rebelar, seria um caos para a população civil. As cidades seriam fechadas, a comunicação bloqueada, e a coordenação de tropas estaria espalhada por vários locais do país. Não à toa, quando tentaram aplicar essa estratégia com a Intentona Comunista de 1935, acabou sendo facilmente esmagada pelo governo Vargas. Além disso, grandes centros urbanos seriam difíceis de se manter devido ao enorme número de moradores, e consequentemente uma quantidade grande de pessoas contra a rebelião. Mesmo que mantenha somente as zonas rurais, isso limitaria a força, tornando-se um alvo fácil e sem estrutura.

Agora, se fosse uma rebelião de estados se unindo contra o governo federal, o cenário mudaria um pouco. Consideremos que os estados do Sul se rebelem junto de São Paulo e Mato Grosso do Sul, formando os “Estados Confederados do Sul”, aderindo à causa o baixo comando do exército e os voluntários da Pátria do Sul. Pode parecer assustador, mas algo desse tipo TAMBÉM já foi tentado no Brasil na Revolução Constitucionalista de 1932. O plano aconteceu após Getúlio Vargas tomar o poder em 1930 e começar a governar por decretos, sem uma constituição estabelecida. Abismados com a situação, São Paulo se aliou com Minas Gerais e algumas tropas no Rio Grande do Sul, criando uma rebelião para derrubar Vargas do poder. Aconteceu que Minas Gerais e Rio Grande do Sul traíram São Paulo, dedurando o plano para o governo federal. Isso fez com que o estado lutasse a guerra praticamente sozinho, haja visto ter apoio apenas do Mato Grosso do Sul, que na época chamava-se Estado de Maracaju, o qual não tinha muito a ajudar, seja com tropas, seja com mantimentos.

A maior dificuldade para se tentar repetir isso hoje seria a formação rápida de um exército novo e eficaz para combater um exército profissional e bem estabelecido. Mesmo naquela época só foi possível, pois os estados brasileiros tinham um “exército estadual” próprio além do federal, com muitos combatentes improvisando táticas de batalhas para ter alguma chance de vitória. Mas mesmo com isso tudo, ainda não vimos nem a metade. Há também questões de suprimentos e das relações internacionais com outros países, já que as grandes potências não iriam querer apoiar os rebeldes e promover uma guerra civil no segundo maior país das Américas. Além disso, países como Estados Unidos, China e Venezuela mandariam tropas para ajudar seus respectivos lados.

O exército brasileiro não tem experiência de combate em guerras e muito menos as pessoas jovens de hoje em dia tem algum fervor ou vontade de pegar em armas e matar pessoas por uma guerra civil que destruirá suas vidas e possivelmente matará suas famílias no processo. Ao contrário do que os comunistinhas de internet pregam, há muito a se perder em uma revolução. Inclusive, até a guerra civil americana que usamos de exemplo, há várias diferenças, contando principalmente com a época em que ocorreu, além do apoio das elites do sul. Aqui no Brasil, a elite apoia firmemente o governo vigente, assim como os militares também são subservientes ao estado. Eles não se juntariam ao povo como alguns que defendem ditadura militar acreditam. O exército brasileiro hoje é somente um bando de melancias. Podemos observar que as chances de uma guerra civil eclodir no Brasil, quanto dela ser vencida seriam praticamente zero.

Também temos que nos lembrar do mais importante, que uma guerra civil em um país como o Brasil não traria nada além de milhões de mortos sem garantia de vitória e com mais indivíduos inocentes passando fome e se refugiando aos milhões em nações vizinhas. A guerra entre estados ou uma guerra para substituir o estado atual por outro, não traz benefício algum.

Se o Brasil se tornasse uma ditadura no estilo da Rússia não há um meio pronto para se combater isso e não há chances de vencer em uma Guerra Civil. Portanto, nos resta lutar no nível individual e nos manter o mais longe possível da influência do estado. E mesmo que aconteçam guerras e revoluções mundo afora, talvez isso seria evitado se as pessoas não fossem obrigadas a viver num mesmo estado com regras que nunca concordaram. Em suma, faça aquilo que os libertários agoristas sempre falaram: tire o estado do seu dinheiro; fique abaixo do radar; viva sem depender do governo; e, principalmente, vote com os pés. Se não estiver bom para você, vá para outro lugar que te acolha, e comece uma nova vida.

Referências:

https://en.wikipedia.org/wiki/Constitutionalist_Revolution
https://pt.wikipedia.org/wiki/Intentona_Comunista#:~:text=Intentona%20Comunista%2C%20também%20conhecida%20como,apoio%20do%20Partido%20Comunista%20do
https://www.newsweek.com/secession-group-launches-new-hampshire-we-demand-better-1923909