A fábrica da Troller, localizada em Horizonte, no Ceará, e que pertencia à Ford, receberá novas montadoras de marcas chinesas de carros elétricos.
Em 2021, a Ford anunciou o fechamento de suas últimas três fábricas no Brasil, encerrando décadas de presença manufatureira no país. A montadora americana culpou a pandemia, que, segundo a empresa, amplificou anos de baixas vendas e "perdas significativas" na região. A decisão fez parte de uma reestruturação global da fabricante multinacional, que buscava melhorar seu desempenho financeiro.
Abrimos aspas para Jim Farley, o então CEO da Ford: "Com mais de um século na América do Sul e no Brasil, sabíamos que estas eram ações muito difíceis, mas necessárias para criar um negócio saudável e sustentável".
Antes daquela triste crise sanitária, a fabricante de automóveis americana já havia anunciado planos de reduzir suas operações em vários mercados, com fechamentos em países como Brasil, Reino Unido, França, Alemanha e Rússia. Essa decisão permitiu à montadora focar em sua eficiência operacional e em inovações, resultando em uma projeção de crescimento de dois dígitos para 2024.
Em setembro deste ano, a montadora americana oficializou a venda das instalações da unidade do estado do Ceará, que estava desativada desde 2021. Com isso, o imóvel foi entregue para o governo estadual. A área foi então cedida para a Comexport, empresa de comércio exterior do Brasil, que já se comprometeu a investir 400 milhões de Reais na revitalização do complexo industrial.
O decreto de cessão do imóvel da antiga Troller para a Comexport, que se dá em regime de comodato, foi celebrado na presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. Além dele, estavam o governador do Ceará, Elmano de Freitas, e o vice-presidente da Comexport, Rodrigo Teixeira.
A Comexport planeja transformar o antigo espaço da Ford em um polo automotivo para a produção de veículos eletrificados. A empresa informou que a fábrica operará em formato semelhante ao adotado pela Nordex, no Uruguai, onde os carros são montados em regime CKD (peças completamente desmontadas) ou SKD (parcialmente montadas). A previsão é que a planta produza cerca de 40 mil veículos por ano, gerando 9 mil empregos diretos e indiretos na região.
Apesar de acreditarmos no empreendedorismo, a economia brasileira, seus altos impostos e nossa insegurança jurídica nos trazem ceticismo, já que é notório que grandes e experientes montadoras de carros elétricos enfrentam desafios significativos. O alto custo de produção, principalmente devido ao preço das baterias, e a escassez de infraestrutura de carregamento, que limita a adoção dos veículos, são algumas das condições a serem enfrentadas pela indústria.
Além disso, a crescente concorrência no mercado, as mudanças nas regulamentações e incentivos governamentais, bem como a necessidade de mudar a percepção do consumidor sobre o desempenho e os custos de propriedade dos veículos elétricos, são fatores cruciais. Por fim, a demanda crescente por matérias-primas essenciais, como lítio e cobalto, exige um fornecimento sustentável e ético. Fica difícil acreditar que uma empresa de importação e exportação conseguirá atuar em um setor tão difícil quanto o automotivo, mas torcemos para estarmos errado.
Ludwig von Mises, um dos principais economistas da Escola Austríaca de Economia, defendia o livre mercado como o sistema mais eficaz para alocar recursos, promovendo eficiência e inovação. O pensador austríaco defendia que a competição é fundamental, pois permite que os consumidores se beneficiem de preços mais baixos e melhor qualidade.
Mises reconhecia que empresas inexperientes podem enfrentar dificuldades em um mercado competitivo, mas via isso como parte do processo, em que aquelas que não atendem às demandas do consumidor, ou não são eficientes, eventualmente sairão do mercado. Isso é necessário, pois esse processo abre espaço para novas iniciativas que oferecem produtos e serviços superiores.
O economista sustentava que, em mercados desafiadores, a flexibilidade e a capacidade de adaptação são cruciais, já que as dificuldades enfrentadas pelas empresas podem levar à melhoria e à inovação. Além disso, Mises enfatizava o papel do empreendedor como o agente que busca lucros em um ambiente de incerteza, identificando oportunidades e se adaptando às mudanças do mercado, o que é essencial para o progresso econômico. Assim, embora o livre mercado possa ser desafiador, ele é visto como um motor de aprendizado e adaptação, fundamental para o desenvolvimento de uma economia saudável.
A Comexport iniciou sua operação, ainda nos anos 70, na busca de novos mercados para a produção da indústria nacional, num período em que grandes mercados, como o americano e o europeu, impunham restrições às importações. Alan Goldlust, o presidente da empresa, revelou a saída encontrada. Em suas palavras, ele conta:
"Um dos primeiros negócios foi exportação de matéria-prima têxtil para a China. Hoje, parece uma heresia", diz Goldlust. "Como a gente exportava, essas economias centralizadas exigiam que se importasse também. Então, começamos com a importação tanto da China quanto de Rússia, Eslováquia, Hungria."
O mais intrigante da futura Comexport é que seu crescimento foi de 50 anos em 5 anos, como muito se orgulha o presidente Alan. A empresa cresceu 360% desde 2018 no disputado comércio global, coincidência ou não, no último ano do governo Temer.
Outra coincidência nessa história é que esse é o slogan associado à construção de Brasília, adotado por Juscelino Kubitschek, o vigésimo presidente do Brasil: “50 anos em 5”. E todos nós sabemos que grande porcaria é Brasília; seria esse um mau presságio?
Essa iniciativa da Comexport já era esperada desde que a Ford decidiu encerrar as atividades industriais no Brasil em janeiro de 2021. O que aconteceu foi que o Governo Cearense decidiu desapropriar a área em março de 2024, no entanto, a Ford levou o caso à justiça.
Em declarações ao jornal O Povo, o governador e outros políticos do Ceará comemoram a adesão da iniciativa à economia Verde e aos preceitos do desenvolvimento sustentável. O Governo do Estado aguarda por um bom retorno. Agora resta saber: para quem será esse bom retorno?
Embora os detalhes ainda não tenham sido completamente divulgados, a Comexport revelou que pelo menos seis novos veículos eletrificados, de três montadoras diferentes, serão montados nas esteiras da antiga fábrica da Troller.
Especula-se que as novas marcas chinesas, como Neta Auto, Seres, Zeekr (do Grupo Volvo), e outras, possam dividir o espaço. Esse modelo de ocupação conjunta já foi adotado anteriormente no Brasil por empresas como BYD e GWM, que adquiriram antigas instalações da Ford e Mercedes-Benz e nacionalizaram a produção de seus veículos.
Vale lembrar que a BYD e a GWM são montadoras chinesas que também se beneficiaram com a saída de outras gigantes, como a Mercedes-Benz e a Ford, por exemplo.
A planta do município de Horizonte segue o exemplo dessas iniciativas, voltando-se para a produção de modelos elétricos e híbridos, contribuindo para a eletrificação da frota automotiva no Brasil. A Comexport segue mantendo os nomes das montadoras envolvidas em sigilo, mas as expectativas para o futuro da planta são altas, já que ela deve se tornar um polo estratégico na produção de veículos elétricos no país.
De todas as antigas fábricas da Ford no Brasil, a de Horizonte era a única que ainda não tinha uma destinação definida, até a assinatura do acordo na justiça.
É lamentável pensar que a crescente presença das montadoras chinesas no Brasil será impulsionada por políticas governamentais, o que levanta sérias preocupações sobre a qualidade dos veículos que poderemos encontrar no mercado, em matéria de segurança e durabilidade.
O simples fato de o governo estar envolvido nessa movimentação é motivo para preocupação, por ser uma intervenção que pode prejudicar o setor automobilístico nacional. Esse movimento, que pode parecer vantajoso a curto prazo, pode levar a uma dependência excessiva de produtos estrangeiros e a um aumento na tributação do consumidor, além de afetar a competitividade das montadoras locais.
É um alerta para refletirmos sobre as consequências de longo prazo dessa estratégia, especialmente se considerarmos o fracasso da construção de Brasília sob o governo de Juscelino Kubitschek, que apenas gastou o dinheiro do povo. Na época, o sonho de modernização e desenvolvimento acelerado trouxe a promessa de um Brasil próspero, mas também resultou em uma série de desafios que presenciamos diariamente.
O equilíbrio e a saúde das empresas vêm do livre mercado, onde a interação entre oferta e demanda cria um ambiente propício para a inovação e a eficiência. A concorrência resulta em preços de mercado, sem distorções, e em uma maior variedade de escolhas, o que beneficia tanto os consumidores quanto os produtores. Assim, o livre mercado não apenas estimula o crescimento econômico, mas também assegura que a qualidade e a satisfação do cliente sejam priorizadas, promovendo um desenvolvimento sustentável e equilibrado.
O que destrói o livre mercado e empobrece uma sociedade é a Mão nada invisível do Estado, nesse caso, o Estado do Ceará e, em última instância, o Leviatã central de Brasília que suga trilhões da sociedade produtiva todos os anos.
https://canaltech.com.br/carros/ford-confirma-venda-e-libera-fabrica-da-troller-no-ceara/
https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/ford-entrega-antiga-fabrica-da-troller-para-governo-do-ceara
https://www.bbc.com/news/business-55626572
https://www.bbc.com/news/business-55626572
https://exame.com/economia/50-anos-em-5-como-a-comexport-cresceu-360-desde-2018-no-disputado-comercio-global/
https://www.opovo.com.br/noticias/economia/2024/08/09/ao-vivo-alckmin-anuncia-investimentos-em-polo-automotivo-no-ceara-veja.html%22%20/l%20%22:~:text=A%20empresa%20vai%20montar%20os%20ve%C3%ADculos,%20seis%20modelos%20de%20tr%C3%AAs